Dona de um sorriso autêntico e contagiante, a Benedetta é uma pessoa sonhadora e honesta, curiosa e criativa.
Nascida em Milão, Itália, em 1994, frequentou um colégio artístico, onde se deixou seduzir pela arte e suas técnicas. Sempre se interessou pelo teatro e pelo cinema, mas acabou por se formar em Literatura e Línguas Estrangeiras, tendo escrito uma tese sobre Teatro Social.
Criativa por natureza, a Benedetta adora usar diferentes meios de expressão, ama poesia, a natureza, artesanato e manufactura. Foi a combinação desses interesses que, durante o primeiro lockdown, em Março de 2020, a levou a deitar mãos à cerâmica de uma forma mais dedicada, tendo daí surgido peças francamente bonitas, agora sob o nome de ToBe Ceramics.
As viagens sempre fizeram parte do seu caminho, tendo morado em diversas cidades e países até encontrar no Porto uma alternativa à sua cidade natal. É na Invicta que agora, em 2021, dá início à construção do seu espaço de trabalho de sonho, uma oficina partilhada e multidisciplinar, pensada para inspirar, produzir manualmente e colaborar.
A Benedetta chegou à CRU por vias travessas e acabou por fazer um estágio de 4 meses nas nossas instalações. Durante esse tempo, foi uma preciosa companheira que nos ajudou na nossa recente renovação de espaços e processos.
A nosso convite, participou num projecto de e sobre a comunidade do quarteirão Bombarda, tendo sido a entrevistadora das peças da nossa mais recente rubrica ‘Bombardians’, que estreará na próxima semana.
As bonitas chávenas do nosso Coffee Bar são da sua autoria, bem como outras peças delicadas e especiais que vendemos na nossa loja, e que podem também ser visualizadas na sua página de instagram.
O que é que te levou a criar a ToBe Ceramics?
O projecto nasceu de uma forma muito orgânica, sem muita premeditação, nem estrutura. Fiz algumas oficinas de cerâmica quando morava em Milão, em 2017 e 2018, e durante o lockdown, em 2020, comprei uma roda de oleiro para praticar sozinha. Esse tipo de técnica é mais uma prática, quanto mais se faz, mais se torna profissional . Depois, fiz uma página do Instagram, inicialmente nascida para eu ter uma organização visual do que estava a fazer. Comecei uma colaboração com a Tânia para o novo bar da Cru Loja, e depois surgiram alguns clientes e amigos que mostraram interesse no que faço. Instalei-me, mais recentemente, num novo estúdio. Amanhã, veremos!
És senhora ou escrava do teu tempo?
Sou uma pessoa bastante organizada, que sabe administrar o seu tempo, mas geralmente quero fazer tudo imediatamente. Ultimamente, tenho aprendido a priorizar as coisas, para não as apressar, mas sim vivenciá-las e apreciá-las. Tenho períodos de extrema quietude, quando nada se move, nem progride, e, tenho períodos em que sou muito produtiva, cheio de ideias e energias. Ambos os períodos são necessários para o meu processo de criação.
Casa, escritório, coworking, oficina?… Onde passas as tuas horas de criatividade e produtividade?
Por fim, tenho um espaço que posso chamar de meu, não porque seja meu, mas porque posso intervir nele da maneira que quiser, decorando-o e fazendo-o sentir-se em casa. É uma casa actual com zona de co-working e zona de atelier, pelo que posso dividir as minhas actividades diárias, estando no mesmo espaço. Possui ainda um jardim, extremamente regenerador e positivo para o processo de criação. O espaço onde trabalho deve ser um espaço onde me sinta em casa, com liberdade para me expressar e que reflicta os meus valores e padrões, sobretudo esteticamente. A minha casa, o lugar onde moro, é o lugar onde descanso e reflicto, onde brinco com a minha gata, cuido dela e de mim. Para mim, o espaço onde trabalho não pode ser o espaço onde também vivo.
Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal
Mais do que o que está na minha mesa, o que me influencia é o que está ao meu redor, o ambiente em que estou imersa. E, com certeza, tem que ter luz natural, pessoas de espírito, positivas e criativas, um design limpo e muitas plantas. Se houver um gato por perto, é ainda melhor. Preciso de beleza e tranquilidade para ter vibrações positivas e clareza de espírito.
quem são as tuas referências na área da cerâmica? procuras inspiração em outras formas de arte?
Tenho referências aleatórias, principalmente de páginas do Instagram. Não tenho formação académica em cerâmica, sou uma auto-didacta. A minha inspiração é qualquer coisa que seja esteticamente bonita, que seja harmónica e elegante. A minha primeira fonte de inspiração é a natureza, na sua simplicidade, exclusividade e exactidão. Nada é sem sentido na natureza, tudo tem um significado. Por isso, as minhas peças procuram ser simples e elegantes, respondendo a uma necessidade prática, criando, por isso mesmo, peças que possam ser utilizadas no dia-a-dia.
Onde / como podemos encontrar e comprar as tuas peças?
Estou a trabalhar nisso! Comecei uma página do instagram não há muito tempo atrás. Descobri que prefiro usar este meio social para partilhar valores e imagens de alta qualidade mais do que produtos. Em breve, irei criar um site com um catálogo de objectos, que será a montra principal. Depois, claro, lojas locais, com quem continuo a construir colaborações.. Mas, para já, estou a expor algumas cerâmicas no melhor local do Porto — a Cru loja! Gosto de trabalhar por encomenda e co-projectar os objectos com o cliente, para que cada produto seja único e atenda às necessidades específicas do cliente.
Os produtos da ToBe são produzidos à imagem da Benedetta, ou a pensar nos seus clientes?
Uma coisa não exclui a outra. Cada peça é um reflexo da minha forma de perceber a harmonia e do meu gosto, mas claro que se adaptam às necessidades de cada cliente. Gosto de co-desenhar as peças com os meus clientes, para que satisfaçam ambos: a minha necessidade de expressão e a necessidade do cliente de se rodear de algo que tenha um significado pessoal.
Quem é a Benedetta quando não está na roda?
É uma pessoa muito curiosa, muito forte e ao mesmo tempo muito gentil e frágil. É uma pessoa que ama o ar livre, a natureza, ler poemas, partilhar momentos com pessoas, conhecer histórias, explorar o mundo, viajar. É uma pessoa que gostaria de fazer todo o tipo de trabalho manual e artesanato. Até agora, o meu caminho tem sido um caminho de auto-descoberta e de me deixar expressar de forma criativa, ora apoiando-me, ora permitindo-me tentar e falhar. Este processo de exploração criativa ainda está no começo, mas tenho a certeza que há ainda muito por descobrir. Os meus próximos projectos são muitos, começando pela colaboração com uma ilustradora francesa super fixe que vive no Porto; desenvolver um espaço que é casa mas também coworking e atelier, convidando diferentes artesãos e artistas a partilharem os seus conhecimentos com a comunidade através de workshops e encontros; explorar mais o mundo dos têxteis e jóias de cerâmica.
Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?
A pandemia não afectou a minha maneira de trabalhar… revolucionou-a. Comecei a levar mais a sério o hobby de olaria e a permitir que o meu lado criativo se expressasse mais. Logo no primeiro lockdown, em Março de 2020, estava entediada e longe de casa … Comprei uma roda de oleiro e foi o começo deste pequeno projecto muito recente. Não havia mais espaço para adiamentos, fui forçada a lidar comigo mesma e com a minha vontade de criar.
Tens algum motto ou mantra que recordas em períodos mais desafiantes
Ser paciente, ser gentil consigo mesmo, rodear-se de pessoas que inspirem, criar colaborações, permitir-se perder sabendo-se enraizado no seu centro, ser verdadeiro com aquilo que se é.
O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.
Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: Benedetta Grasso