O Diogo só podia ser boa gente. Nasceu no dia de São João, ainda por cima na Madeira, gosta de petiscos, tainadas, tascas e…cerveja!

Segundo o próprio, depois de nascer e ser inútil durante uns anos, fez umas coisas. Nadar no CD Nacional e estudar Educação Física e Desporto na UMa, foram algumas dessas coisas. Outra, já com idade legal, foi beber cerveja. Primeiro bebeu aquela que era muita má, depois lá bebeu alguma da boa. 

Foi bebendo melhor e aprendendo cada vez mais e, um dia, começou a fazer cerveja em casa.

Primeiro, e à semelhança da sua própria experiência de consumidor, fez também da muita má e, depois, lá foi acertando numa ou outra mais mediana. 

Entretanto, conheceu a OPO 74 num festival, e apaixonou-se tanto pelas pessoas como pelas cervejas. E, apesar de não ter quaisquer habilitações que justificassem a sua entrada na vida desta empresa, casou-se inelutavelmente com ela! São, assim, felizes há 4 anos.

A OPO74 é a única cerveja que servimos no Coffee Bar da CRU. Também nós nos apaixonámos pela cerveja e, por isso mesmo, mantemos um relacionamento sério com o Diogo Abreu.

Quando foi que te juntaste à OPO74?

A OPO 74 foi criada em 2015 por pessoas discretas, carregadas de valor e ética de trabalho. Em 2017, juntei-me ao projecto e o sossego terminou.

És senhor ou escravo do teu tempo?

É bebedor o trapezista encarregue pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional, pelo que a coisa dá-se com mais deselegância do que aquela que gostaria de admitir. Na verdade, há uma organização orgânica, por vezes caótica, mas alegre.

Que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar a tua cerveja à boca dos teus clientes?

Tudo começa com um “bom dia”. Com a angariação de bons clientes. Com provas e troca de ideias. Felizmente, temos encontrado parceiros interessantes que se identificam connosco, são eles os maiores catalisadores da marca. Em complemento a isto, há uns eventos aqui e ali, entretanto um pouco dizimados por este vírus chato.

quem são os clientes da OPO74 e o que é que os faz escolher a vossa cerveja?

É a consistência e o despretensiosismo das nossas cervejas que cativam os clientes. Procuramos desmistificar certos conceitos em volta do perigoso termo “artesanal”. A nossa dedicação é com a qualidade e com a democratização do produto. Produzimos cerveja para pessoas comuns. As nossas receitas são anti-snobs. E quando alguém bebe uma OPO 74 e é repentinamente dominada por uma vontade de agarrar outra garrafa, para mim, está o dia ganho.

Como descreverias a tua equipa de sonho?

Actualmente, o meu trabalho é uma espécie de solo de guitarra ligeiramente desafinado, pois sou o único no activo. Para o bem e para o mal, a OPO 74 e o Diogo confundem-se. Ao longo dos últimos anos, tenho descoberto pessoas talentosas, com as quais gostava de trabalhar um dia. Muitas delas são meus concorrentes. Mas, quando roubamos mercado às ditadoras e insípidas cervejas industriais, passamos a ser colegas.

Como é para ti ser empreendedor no Porto / em Portugal?

Não obstante o pesadelo burocrático, ser empreendedor em Portugal é possível. Existem apoios, as coisas funcionam mais ou menos. Às vezes custa mais tentar vingar num ambiente rarefeito relativamente à cultura exaltadora dos nossos produtos. Há mais pessoas interessadas nisto, mas ainda é nicho.

A que tribos pertences?

Há uma grande mixórdia de pessoas que bebem as nossas cervejas. É difícil identificar um tipo. Porém, parece haver alguns pontos convergentes, pessoas com maior consciência ambiental, que valorizam pequenos negócios, que são fisicamente activas, que têm um palato curioso. Pessoas normalmente contemporâneas e com um gosto estético muito específico, pois os nossos rótulos são um pouco esquisitos.

O que te faria mais feliz ou realizado profissionalmente?

Faço aquilo que gosto numa cidade extraordinária. Não me persuadem, portanto, os arrojados flartes da ambição. No entanto gostava de gradualmente fazer menos vendas e mais outras coisas. Não sei bem, ainda, que coisas seriam essas. Ai, mas fazê-las-ia!

Quem é o Diogo quando não está a pensar em cerveja?

Quando não estou a pensar em cerveja sucumbo ao absurdismo da vida. Também há a corrida, o squash, o vinho, os livros, as bicicletas, o mais recente e deprimente autodidatismo na guitarra, que são coisas interessantes quando bem feitas. Não é o caso.

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

A pandemia é de facto um tema incontornável. Além do brutal declínio do volume de vendas, há outros efeitos. Acompanhar os meus clientes, por exemplo, é menos harmonioso. Não há tanta disponibilidade de parte a parte. Não sei se é por ter nascido num sítio remoto ou não, mas sou muito do toque, da proximidade. E isso tornou-se cada vez mais raro. Isso entristece-me. Mas já não me afecta tanto.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: Diogo Abreu