O Diogo é ‘o’ nerd do café. E o café é, por si só, um mundo.

Com 32 anos, Diogo Amorim soma uma licenciatura em Gestão da Universidade Católica do Porto, um Mestrado em Relações Internacionais do Minho e ainda um Mestrado em Economia e Ciência do Café Universidade Trieste.

Hoje em dia, dá formação de torra no Mestrado de Café e também na Joper (fabricantes de torradores) e é consultor nesta área para várias empresas.

É o fundador da Luso e da Senzu Coffee Roasters e também o co-fundador de uma escola de café, a única do Porto – abcoffee – onde é formador nos cursos de certificação SCA de torra, análise sensorial e café verde. 

O Diogo foi-nos apresentado pelo nosso amigo em comum, Miguel Barbot, no âmbito de uma relação fornecedor-cliente. No entanto, tornou-se amigo e cúmplice de uma parceria muito mais significativa do que apenas revender o melhor café de especialidade. Mas isso desvendaremos em breve 🙂

O que é que te levou a criar a Senzu?

Desde pequeno que vivo no mundo do café. O meu pai é distribuidor de café para restaurantes e cafés há mais de 40 anos, e em pequeno nas férias de verão durante umas semanas ia ajudar. A paixão e interesse por café só surgiu mais tarde. Após 6 meses de estágio em Moçambique, o qual integrei o programa InovContacto após o Mestrado em RI, decidi que queria começar no negócio de família mas apostar primeiro no conhecimento e formação na área de café.

Verifiquei que havia um Mestrado em Café, ao qual me candidatei e fui aceite. Nesse Mestrado, em 2015, entrei em contacto com jovens dos mais variados países produtores de café, foi uma experiência única. Durante uma viagem a Viena, Budapeste e Bratislava com alguns desses amigos e colegas de mestrado, fiquei a conhecer o conceito Specialty Coffee. Ao regressar a Portugal, decidi que queria criar uma torrefação de café de especialidade pois ainda não havia. Durante o processo de criação surgiram 2 torrefações (1 no Porto, outra em Lisboa). Assim nasceu a Luso Coffee Roasters. Mais tarde em 2019 mudei a localização da Luso para o Porto numa parceria com a extinta coffee shop Bird of Passage e decidi criar outra marca, a Senzu Coffee Roasters. A Luso ficaria para cafés de especialidade com sabores e blends características do consumidor português, e a Senzu teria cafés de origem única com sabores e qualidade única.

Que livros mais te influenciaram na tua vida profissional?

Ernesto Illy fundador da illy caffé, uma empresa que aposta imenso em inovação e conhecimento da indústria do café.

Livro Espresso Coffee

Uncommon Grounds de Mark Pendergrast

World Atlas of Coffee de James Hoffmann

The Craft and Science of Coffee de Britta Folmer

Que formas encontras de activar a Senzu e de fazer chegar o teu café às chávenas dos teus clientes?

Como não sou muito bom em marketing e o capital disponível é muito limitado, a Senzu cresce basicamente pelo passa a palavra e pela confiança de cada cliente. Por norma os clientes gostam da Senzu e da forma de contacto que tem comigo, digo comigo porque muitos sabem que a Senzu é o Diogo, e isso é o que os faz voltar.

Como descreverias a tua equipa de sonho?

A Senzu é muito pequena para ter equipa, tudo funciona apenas com uma pessoa. E será sempre assim, o objetivo não é crescer constantemente. Obviamente que ainda há espaço para crescer e ser mais sustentável, mas até um certo ponto. A minha equipa são os meus clientes tanto B2B como os B2C, e os meus colegas de profissão. Pois no café de especialidade existe uma pequena comunidade de profissionais da área em que nos relacionamos muito bem (grande parte).

Quais são as tuas principais aspirações enquanto coffee roaster?

Ser torrador é uma constante aprendizagem. É continuar a praticar, a ter formação na área, partilhar experiências com outros torradores, ir a eventos. Absorver o máximo de informação pois é uma evolução contínua.

Como vês o crescimento e a escala da Senzu nos próximos anos?

Respondo um pouco anteriormente, não pretendo crescer. A nível de projetos cada vez mais acredito em projetos em conjunto com outros negócios. Sempre pretendi ter a Senzu num espaço aberto ao público para haver a possibilidade de provar o café no local controlado pelos standards da Senzu e onde se torra. Essa oportunidade surgiu com a CRU Creative Hub, um local onde junta vários experts em diferentes áreas e com loja aberta ao público, onde agora podem usufruir de um café de filtro da Senzu bem como levar café para casa.

Quem é o Diogo quando não está a torrar (ou a beber) café?

Basicamente o covid veio estragar os poucos hobbies que tenho. Desporto em conjunto, viajar e ir a restaurantes/cafés. Gosto muito de fazer o meu desporto em grupo, algo que há mais de um ano não o faço de forma regular. Grande parte do pouco dinheiro que tenho para mim após despesas pagas são para estes dois prazeres que me fazem crescer muito enquanto pessoa e também profissionalmente: viajar pelo mundo (tenho o sonho de visitar todos os países do mundo) sempre me incutiram a cultura de “quem quiser saber, é passear ou ler” eu faço os dois mas mais o primeiro; visitar restaurantes/cafés é uma experiência social, cultural e sensorial de que podemos retirar muito dela, crescer e absorver toda a informação que nos é dada, ao mesmo tempo que comemos ou bebemos.

Uma vida na escola ou a escola da vida?

São os dois. A nossa vida é uma escola, porque como disse estamos sempre em aprendizagem mesmo que não queiramos.

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

Não alterou a forma de trabalho, apenas aprofundou as relações com quem trabalho. Pois todos nos vimos numa situação extremamente complicada (que ainda estamos) e que tivemos de ter uma atitude de compreensão e mútua ajuda entre nós.

Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar a preparar o seu drip coffee em casa?

Pesquisar informação na net, ver vídeos e blogs, e talvez fazer alguns pequenos workshops, de preferência na abcoffee

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Diogo Amorim