Criadora portuguesa de joalharia contemporânea, Joana Santos vive em Valongo, onde tem presentemente o seu atelier, visitando regularmente o Porto, onde tem sempre diferentes afazeres.
Com inspiração em formas arquitectónicas, mas também nos movimentos da natureza e na arte, cria contrastando a racionalidade da linha com a delicadeza da técnica e a imprevisibilidade do detalhe.
Licenciada em Arquitetura, procura na joalharia de autor a expressão mais pura da sua estética: ângulos rectos e planos simples, com jogos de luz e sombra, que acentuam a tridimensionalidade e volumetria das suas peças.
Do conceito ao desenho e do processo à matéria, é com perfeito rigor que as jóias tomam forma nas mãos de Joana.
Em prata, únicas ou em colecções limitadas, cada peça alia o trabalho manual, minucioso e cuidado, com a pesquisa conceptual e a experimentação técnica.
Desde que se fez joalheira, no Cindor 2013-2016, participou em várias feiras internacionais de joalharia contemporânea e co-fundou diversas lojas de joalharia no Porto.
Pessoa de múltiplos talentos e uma bonita humildade, a Joana é uma das pessoas mais generosas com quem temos o prazer de privar. Conhecemo-la desde a altura em que nos trouxe à CRU uma sua outra marca, a INKI, em 2013. Desde então, é uma pessoa muito activa na nossa comunidade. Podem encontrar as peças da Joana Santos no seu próprio site ou experimentá-las ao vivo na loja da CRU.
Como vieste a tornar-te joalheira?
Sempre fui uma apaixonada pela área, muito influenciada pela minha mãe. Numa viagem ao Brasil, após o contacto mais directo com a profissão, decidi que era o tempo certo para me aventurar na joalharia.
És senhora ou escrava do teu tempo?
Já fui escrava do tempo e do meu trabalho. Quando temos a nossa própria marca, somos muito exigentes e existe a tendência de nunca parar. Felizmente, hoje a postura é diferente e consigo regrar-me.
Revela-nos o que costumas ter em cima da tua bancada de trabalho, num dia perfeitamente normal?
No dia-a-dia, a minha banca de ourives está um caos, entre os objectos normais que a compõem, existem sempre inúmeros alicates, réguas, limas e várias peças de distintas colecções. Quando inicio um novo trabalho, gosto de arrumar e limpar a banca de forma a fazer um reset e envolver a oficina de elementos que me inspiram.
Quem são, para ti, referências de sucesso na área da joalharia?
Poderia falar de inúmeros artistas internacionais, mas preciso de nomear os nossos que são igualmente inspiradores e talentosos. Liliana Guerreiro é uma artista que admiro imenso e é uma grande referência de sucesso na joalharia contemporânea portuguesa.
Os produtos da Joana Santos Jewellery são produzidos à imagem da Joana, ou a pensar nos seus clientes?
Penso que num todo, as peças são pensadas e criadas num processo muito pessoal e íntimo. Faço uso das redes sociais para estar mais próxima dos meus clientes e também para tentar compreender quais as suas opiniões sobre o progresso dos trabalhos.
De que outras especialidades te fazes rodear profissionalmente?
Tenho a sorte de estar rodeada por uma comunidade tão diversificada como a CRU. É muito frequente recorrer a esta rede de suporte para complementar o meu trabalho. As parcerias e troca de experiências são extremamente produtivas e gratificantes.
O que te faria mais feliz ou realizada profissionalmente?
Ao longo destes 6 anos de marca, vejo um percurso que me aproxima cada vez mais de um trabalho artístico, numa procura de realização pessoal. Penso que esse seria o lugar em que gostaria de estar um dia — poder criar e expressar-se artisticamente através da joalharia contemporânea.
Quem é a Joana quando não está a trabalhar?
Uma apaixonada por pessoas, amigos, pelo meu cão Jazz, por arte, poesia e moda. Sempre que possível, fujo para junto do mar, a minha terapia para relaxar.
Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?
2020 foi um ano difícil profissionalmente, penso que para todos os criativos. Contudo, aproveitei para fazer formações e bastante trabalho experimental na oficina. Este ano de 2021, apesar de um início igualmente difícil, já foi mais possível ver alguma movimentação de vendas.
Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar na tua área?
Teria sido uma grande ajuda, no meu início em joalharia, ser alertada para todos os trâmites, toda complexidade e burocracia que regem a joalharia com metais preciosos, neste país. Penso que o melhor conselho que poderei dar será ser fiel a si mesmo e ao seu trabalho, mesmo quando os caminhos nos parecem difusos e complexos; não esquecer de olhar para trás e perceber o que nos apaixona; finalmente, desistir não é uma opção.
O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.
Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: Joana Santos