Manel Silva é especialista em kokedamas, uma técnica ancestral de jardinagem ornamental japonesa, que desenvolve e expõe no Centro Comercial Bombarda. Mas a história que o trouxe até ali é bem mais longa. “Comecei a fazer jardinagem por terapia, tinha uma carreira de marketing que acabou mal e comecei a cortar a relva dos amigos para ganhar algum dinheiro. Como estava mesmo muito mal, disse: bom como me pagam para fazer isto, vou continuar a fazer jardinagem!”

A partir dali, Manel chegou aos Maus Hábitos e começou a fazer um tipo de jardinagem mais alternativa, com cestos suspensos. Aí, percebeu que as plantas suspensas tinham outra beleza, outro interesse: “As plantas tinham que sair do chão, tinham que estar ao nível dos olhos.”. Foi ali que tudo teve início, com o tempo, Manel foi selecionando pelo tipo de jardinagem que queria fazer e começou a focar-se numa jardinagem mais urbana, mais ornamental e a vender as plantas em mercados urbanos, principalmente no Porto Belo onde ‘cresceu’.

Durante algum tempo, tinha uma pequena loja com muito poucas condições;  como precisava de um lugar para trabalhar e para expor, finalmente em 2017, fui para o Centro Comercial Bombarda onde tive uma pequena oficina no pátio e uma montra. Entretanto, Fátima Silva, esposa de Manel juntou-se também ao CCB com a loja Lagar do Mel. Os dois criaram uma parceria chamada Bee friendly flowers – plantas amigas das abelhas, e, durante a pandemia, conseguiram juntar os dois projectos no mesmo espaço: kokedamas e mel. Dentro deste espaço, Manel tem outra oficina ‘limpa’, para onde leva as plantas que trabalha na oficina ‘suja’ do pátio; as duas são na verdade muito limpas, só que numa mexe com a terra e na outra acaba os kokedamas com o fio. “A suspensão é pensada de maneira a não danificar a planta, mantendo-a, no entanto, na sua posição orgânica”.

Wabi-sabi é a filosofia atrás dos kokedamas, à qual Manel tenta ser o mais fiel possível, e baseia-se em três princípios: nada está completo, nada é para sempre e nada é perfeito. “A imperfeição, o não estar terminado, o sentido da evolução, da maturidade, da imaturidade, o envelhecimento, as estações do ano… tudo isto tem que estar numa planta. Esse é o espírito que eu tento de uma certa forma seguir, e dali a escolha das plantas, uma a uma.”. Conforme esta filosofia, Manel decidiu não fazer revenda: “Eu tenho que entregar cada planta ao dono. As coisas têm que ter uma dimensão, a dimensão é minha, por isso o negócio chama-se Manel jardineiro”.

O nome surgiu anos depois de Manel começar a trabalhar como jardineiro. Foi na altura em que ele trabalhava num sítio muito exposto, no meio dum fluxo de ar e que a sua esposa o desenhou, no mês de dezembro, com casaco e cachecol ilustração à qual deve a imagem do seu negócio. Manel queria que o nome fosse ‘velho jardineiro’, velho como dono de sapiência, dono da sabedoria, de uma prática ancestral, mas, como na língua portuguesa soava mal, optou pelo nome ‘Manel jardineiro’. “Deixei os nomes de família para trás e assumi completamente o Manel jardineiro. Sinto-me feliz, é o que mais gosto na vida. Tenho orgulho do que faço! As pessoas chamam-me KokeBoy, mas eu não quero ser só o KokeBoy. Há mais na jardinagem para além dos kokedamas. 

“Matisse dizia: «Em jardinagem não há erros, há experiências.» Tentativa-erro é fundamental… o jardim é um trabalho em progresso, é um projecto de vida”.

Proust questionnaire com Manel Jardineiro

Qual é a qualidade que mais gostas numa pessoa?

A frontalidade.

Qual é a tua maior conquista?

Pagar as contas com o que faço.

 

Qual é a coisa que tens e desejavas não ter?

Alguns quilos a mais!

 

Qual é uma das tuas manias esquisitas?

São tantas! Sou compulsivo com o que faço, queria desligar às vezes.

O que é o sucesso para ti?

Nao existe. É efémero.

 

Três palavras para te descrever.

Sou um tipo completamente emocional que parece um duro. Não são três, mas…

 

Duas palavras para descrever este espaço.

Um lugar que eu vou construindo com a ajuda da minha mulher e me deixa feliz.

Uma palavra para descrever o Quarteirão Bombarda.

O lugar onde eu vivo.

Bombardians é a nova rubrica que dedicamos aos nossos vizinhos – pessoas e negócios criativos que fazem parte do Quarteirão das Artes do Porto.

Entrevista: Benedetta Grasso Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: João Ferreira