O seu nome é Nils, tem 38 anos e vive na bonita vila da Ericeira com a sua esposa e as suas duas filhas. Nasceu em Hamburgo, Alemanha, onde cresceu. Estudou Filosofia e Política em Tuebingen, na Alemanha, e em Boston, nos EUA.
Antes de se mudar para Portugal, morou em Berlim cerca de 8 anos.
O Nils começou a sua vida profissional no terceiro sector, trabalhou para uma grande fundação alemã, num projecto com o objectivo de empoderar a participação social e política de crianças, adolescentes e jovens em cooperação com ministérios de estados federais, administrações regionais e organizações sem fins lucrativos. Depois disso, trabalhou para uma grande corporação na Alemanha como ‘Changemanager’, com o foco na mudança da cultura corporativa.
Já em Portugal, após ter participado numa aceleradora de startups, fundou a Why Not Soda, uma marca de craft soda com bons ingredientes, pouquíssimo açúcar e sabores interessantes. Esta bebida conquistou o nosso palato e, por isso mesmo, veio parar aos frigoríficos do Coffee Bar da CRU.
Assim, o Nils veio integrar a nossa comunidade, no presente ano de 2021.
O que é que te levou a criar a Why Not Soda?
A minha esposa e eu sempre quisemos morar no exterior. Esta ideia nasceu durante uma viagem de 7 meses pelo sudeste asiático e pela América do Sul. Em 2016, tirámos uma folga do trabalho, quando a nossa primeira filha ainda era bebé. Passámos 6 meses em Portugal, vivemos em Lisboa e na Ericeira. Nessa altura, notámos que a variedade de boas alternativas não alcoólicas no mercado português não existia realmente e, como éramos apaixonados por sodas, com bons ingredientes e sabores interessantes, dissemos a nós próprios: „Why Not“ Criámos, assim, esta alternativa que não encontrávamos aqui em Portugal. Pensado e feito. Regressámos a Berlim em 2017, trabalhámos um ano, poupámos o máximo que podíamos, uma segunda filha nasceu a caminho e mudámos com duas raparigas de 2 anos e 3 meses para a Ericeira. Mudámos em Janeiro e, em Junho, produzimos o primeiro lote. Ganhámos um acelerador de Start-Up no final do ano e, desde então, as coisas têm progredido constantemente, embora, claro que uma pandemia é uma espécie de desafio.
Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal
O nosso trabalho é muito diversificado. Algum trabalho precisa de ser feito na mesa. Planeamento de produção, gestão de stock, planeamento estratégico e execução de actividades de marketing e comunicação. Mas muito trabalho acontece na rua. Visitar clientes (proprietários de restaurantes, bares e cafés), conversar com novos possíveis clientes ou organizar eventos de divulgação da marca.
Que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar a tua soda à boca dos teus clientes?
Como ainda somos uma marca muito pequena com um orçamento limitado, não há grande coisa que possamos fazer. Mais eficaz (e também menos caro) é colocar o produto na boca dos nossos possíveis clientes. Organizamos acções de amostragem em algumas parcerias com restaurantes ou serviços de entrega que acreditamos partilhar o mesmo target. Comunicamos principalmente através do Instagram. E por acreditarmos que as marcas são feitas na mesa, procuramos criar uma boa visibilidade nos locais dos nossos clientes com material de merchandise que se adeque ao valor da nossa marca, sendo orgânico e artesanal.
quem são os clientes da Why Not e o que é que os faz escolher os teus produtos?
As nossas sodas são para todos aqueles que querem beber algo fresco, com menos açúcar e melhores ingredientes. Mas fazemos bebidas para adultos com sabores mais interessantes, para pessoas entre os 20 e os 50 anos, que optam por um consumo mais consciente, mas não são extremistas e querem aproveitar a vida
De que outras especialidades te fazes rodear, profissionalmente?
Fazemos parte da Delta Ventures. O departamento do Grupo Nabeiro / Delta Cafés, que aposta na intensificação do trabalho com Startups. A equipa de vendas da Delta está a distribuir as nossas sodas e discutimos muitos tópicos estratégicos com a equipa da Delta Ventures. Comunicamos diariamente com a nossa gerente de projecto, a nossa gerente comercial e de marketing digital e dois embaixadores da marca. A nossa empresa Juicygalaxy tem apenas dois funcionários, a minha esposa e eu. Além disso, trabalhamos com um designer / criador de conteúdo (freelancer) muito talentoso que nos ajuda a desenvolver a imagem da marca e a nossa comunicação.
Como é para ti ser empreendedor no Porto / em Portugal?
“Who can make it here can make it everywhere”. Portugal é certamente um mercado difícil para as Startups (com bens de consumo em grande movimento) devido a um comportamento de consumo mais tradicional e à menor dimensão do mercado. Em geral, não pensamos que existam desafios especiais ou oportunidades para Startups em Portugal. O que é preciso é um bom conceito, trabalho árduo, resiliência, paciência e sorte. Para nós, participar e ganhar o programa de aceleração do Startup Lisboa foi pura sorte. Criou uma rede para nós. Não a tínhamos e estamos a beneficiar dela até hoje.
Recorda um dos teus momentos de maior orgulho profissional.
Ainda fico muito orgulhoso sempre que entro num bom restaurante ou café de que gosto pessoalmente e vejo clientes a consumir a nossa bebida … talvez reparem no verso das garrafas e falem positivamente sobre o nosso produto.
Mas também estar na fábrica e segurar o nosso próprio produto nas mãos, sabendo que para cada característica desse produto fomos nós que tomámos cada decisão. Tampas, rótulos, cores, design, ingredientes, equilíbrio de sabor da bebida. É assim que eu quero trabalhar.
Como vês o crescimento e a escala da Why Not nos próximos anos?
Seremos a melhor alternativa no mercado de bebidas não alcoólicas e todos aqueles que estão no nosso target-group conhecerão o produto. Claro que precisamos de algum volume para isso, mas estamos no bom caminho. Claro, teremos alguns sabores mais excepcionais e também internacionalmente iremos representar bem Portugal no mercado das sodas artesanais. Sem dúvida.
Quem é o Nils quando não está a pensar em soda?
A minha vida neste momento é a minha família e esse projeto. Mas nos últimos anos, sendo um empreendedor pela primeira vez, aprendi que a obrigação essencial de um empreendedor é também cuidar de si mesmo, caso contrário, todas as dimensões da vida serão afectadas. Então, tento cuidar de mim mesmo. Adoro acordar 1 a 2 horas antes do resto da família. Depois faço ioga, medito, escrevo páginas matinais, deveria correr mais 😉 Tento ler mais ou menos todas as noites (principalmente não ficção, de alguma forma quero sempre aprender algo, quando leio). Mas eu não sou alguém com uma rotina ou algo assim, porque fico entediado muito rápido e então preciso de algo novo. Gosto muito de desenvolvimento pessoal, então é possível que na próxima semana leia algo interessante que quero experimentar e depois o faça como um projeto pessoal extra (mas apenas por algumas semanas, até ficar entediado de novo ;-))
Quais foram as maiores lições que aprendeste, neste período enquanto empreendedor?
Só me posso repetir: Da minha experiência e opinião, a receita de sucesso é como já disse acima: Sim, precisas de um bom produto / conceito, mas o essencial é hard work, resiliência, paciência e muita sorte.
E, pessoalmente: Cuida-te! De contrário, ninguém ficará feliz, nem a tua família, nem os teus amigos, nem os teus parceiros de negócios e, o que é mais importante, tu…
O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.
Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: Nils Schwentkowski