Dono de um british accent perfeito  e um igualmente estonteante sotaque tripeiro, o Rui conquistou-nos com a sua personalidade pacífica e trato fácil, e continua a impressionar-nos com o seu talento e criatividade. Curioso, criativo, e muito terra-a-terra quando a sua cabeça não está entre as cores, histórias e personagens de comics.

Rui Canedo, nasceu em Londres em 1991, filho de pais portugueses. Voltou definitivamente para Portugal, no ano 2000. Estudou na ESAD de Matosinhos em Design de Comunicação, onde concluiu a licenciatura em 2013, ano em que começou a trabalhar para a Sonae. Depois de ter tido experiência numa empresa grande, resolveu dedicar-se a full-time no estúdio Another Collective, o qual ajudou a fundar.

Após 2 anos, decidiu que estava na hora de experimentar novos ares no ramo do design e arranjou trabalho na Transformadora, onde se tornou responsável pela comunicação do Museu do FC Porto. E foi esta porta que lhe deu entrada directa no desenho de um painel para o Estádio do Dragão. Por fim, o seu percurso levou-o à última agência onde esteve antes de fundar o Temper Tantrum, a Sēnsus Design Agency.

Tivemos o prazer de conhecer o Rui aquando da sua entrada no cowork da CRU, em 2018, perdurando a relação até aos dias de hoje através do espaço Loja da CRU, onde os Temper Pins e algumas das suas ilustrações estão à venda. Para conhecerem esse lado mais tangível do seu trabalho, podem visitar-nos pessoalmente na CRU ou espreitar o seu site ou loja online.

O que é que te levou a criar o Temper Tantrum?

O Temper Tantrum nasceu da ideia de querer, na altura, uma mudança abrupta na minha vida. Já tinha experienciado o freelancing, mas nunca a 100% e sempre entre trabalhos a full-time. Durante uns tempos, na última agência onde trabalhei, comecei a pensar no que se viria a tornar no Temper Tantrum.  Em Maio de 2018, foi lançado oficialmente e começou o meu percurso a solo. Senti necessidade de criar um nome, sentia que dava outro ar, assim ser conhecido como o Temper, uma certa assinatura. A verdade é que ajudou, pois foi através deste passo que consegui começar algo que sempre imaginei a fazer, que é vender produtos, neste caso os Temper Pins.

Fala-nos da tua viagem entre a tua cama e a tua secretária.

Após muuuuuuitos anos a viajar assiduamente de transportes públicos, com viagens até 1h, cheguei ao ponto ideal de morar a 5/7min do meu local de trabalho. É uma caminhada curta, mas que me dá gosto. É um dos pontos mais importantes do meu dia, pois mentalizo-me que vou trabalhar. Sendo freelancer tenho a facilidade de trabalhar em casa, mas este pequeno percurso é a chave para me pôr em mood de trabalho. Neste momento encontro-me num cowork, já tendo passado o meu início na CRU. Gostei da sensação de partilha e entreajuda, portanto quando me mudei para o atual, o Land, senti que tinha que ser um cowork na mesma, para descobrir mais pessoas e mais coisas.

Quais são os teus canais de comunicação de eleição que usas para fazer conhecer o teu trabalho?

Uso um bocado de tudo. No entanto, os canais que mais uso para publicitar o meu trabalho e produtos são o Twitter, Instagram e Dribbble. Faço o update normal ao meu website e behance, mas são estes três que depois trazem as pessoas ao meu website e lhes dão a conhecer o meu trabalho e produtos. Acho que, no fundo, é sempre incrível ter um cliente novo, mas acho extremamente importante mantê-lo, ou o fazê-lo voltar. Portanto, sempre que tenho um projecto novo, faço os possíveis para ter a melhor relação possível com o cliente, para o fazer querer voltar. Da experiência que tenho, são os clientes que se mantêm que trazem sempre projectos novos, pois lembram-se de nós e da sua experiência connosco.

Como é que o freelancing te tem tratado até agora?

Acho que posso dizer que o freelancing me tem tratado bem. Claro que todos queremos estar melhor do que estamos, mas tem que ser um dia de cada vez, especialmente em freelancing. A incerteza deve ser a pior parte de ser freelancer e está sempre à espreita mesmo que as coisas estejam a correr da melhor maneira. Para mim, é o meu maior obstáculo, durante os projectos está tudo bem, mas aproxima-se o fim e aparece a ansiedade de saber se vai haver mais ou não.

Recorda um dos teus momentos de maior orgulho profissional / Que projecto mais te encheu as medidas?

A minha primeira venda. Na altura, estava na CRU e tinha abertura para poder comunicar com a Virgínia na loja e vender produtos, o que me ajudou imenso a perceber o que poderia vender e como o apresentar. Lembro-me de me aperceber que através dos meus pins, podia marcar vários pontos no mundo com o meu trabalho, no caso desta venda, Paris!

O que está, para ti, a seguir à próxima curva?

Com o tempo, tenho-me focado no tipo de projectos/clientes que procuro, e por isso, tenho adaptado o meu portfólio, e até mesmo os produtos que tenho vindo a desenvolver. Felizmente, já tive uma experiência com um projecto nesse ramo, que é o ramo do gaming/videojogos.

que muletas tecnológicas usas para dominar ou simplificar o teu dia-a-dia?

As aplicações habituais, Photoshop, Illustrator e Indesign. O Figma tem-se tornado cada vez mais uma peça importante, dando o salto do Sketch. Vai fazer um ano que investi num iPad com o Apple Pencil e tem sido uma ferramenta fundamental para muitos dos meus projectos.

Que outra profissão terias se não fosses designer?

Acho que me via a ter uma loja de banda desenhada. Pessoalmente, todos os meses vou (shoutout ao Mundo Fantasma) recolher a minha mensalidade. Sendo uma pessoa que adora coleccionar, acho que seria o ideal para mim, estar rodeado dos temas que gosto, com objectos coleccionáveis. Isso, ou algo completamente fora, como dobragens.

Que armas usaste, a nível profissional, contra as maleitas da pandemia?

Durante o confinamento, pausas. Saber quando parar, saber separar estar em casa a trabalhar de “estar em casa”. Vivo com a minha namorada, portanto, fazia como se tivesse ido para o trabalho. Ia para o escritório de manhã e trabalhava até ao almoço, parava para almoçar, conversávamos um bocado sobre o que quer que fosse (difícil não ser covid na altura) e voltava para o escritório à tarde. Chegava a hora da “saída”, podia voltar para a sala. Só isto dava-me a sensação que estive “fora”, o conseguir separar as divisões para me ajudar mentalmente. Isso e muitas caminhadas. Em termos gerais, felizmente, no fluxo de trabalho a entrar mudou pouco, houve alturas mais lentas, mas aí foi para actualizar o portfólio e contactar possíveis clientes.

Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar na tua área?

Não ter vergonha de pedir ajuda a quem sabe e opiniões a quem pode ajudar. Normalmente, as pessoas associam freelancing a estar sozinho, não tem, nem deve ser assim. Há dias em que não há como decidir sobre uma questão num projecto, outros olhos poderão ajudar-te. Não és obrigado a saber de contabilidade, arranja alguém que perceba do assunto, não tens que fazer tudo sozinho. Espírito colaborativo!

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Mendes Fonseca Fotografias: Rui Canedo