O Rui é o par de mãos por detrás dos kokedamas mais elegantes do Porto (e do país) — da Fiu – Jardins Suspensos® —, marca que nasceu em 2012 e não parou de ganhar reconhecimento.

Rui Salgado nasceu em Guimarães (1985), mas fez do Porto casa, há já 8 anos.

Licenciado (e pós-graduado) em Arquitectura Paisagística pela UTAD, Rui foi bolseiro no Programa Erasmus com deslocação para Wroclaw (Polónia), frequentando a Uniwersytet Przyrodniczy we Wrocławiu (faculdade das Ciências e do Ambiente, Universidade de Wroclaw). 

Entre 2010 e 2013, foi somando diversas experiências profissionais na área, como em Coordenação e Construção de jardins e em Gestão de campo, produção, manutenção e condução em modo biológico de ervas aromáticas, flores comestíveis e frutos silvestres. Entregando-se, logo depois, a tempo inteiro à Fiu.

A Fiu – Jardins Suspensos® é uma empresa dedicada à transformação de plantas, através de uma técnica milenar japonesa, que implica uma sofisticada moldagem manual da terra e das suas raízes por uma camada de musgo — kokedamas —, envolvida por fios. O resultado é uma forma alternativa, bonita e diferente, de suspender plantas, no interior ou no exterior.  

O Rui é uma pessoa extrovertida, com uma personalidade optimista e positiva, uma atitude profissional e dedicada. Para além de fornecer à nossa loja as suas Fius, quase desde o início (2013), é um amigo da casa e o nosso consultor informal em tudo aquilo que diz respeito a plantas na CRU.

Se este artigo vos fez ansiar por uma destas belas plantas, não hesitem em consultar o site da Fiu ou visitar-nos um dia destes na loja da CRU.

A Fiu tem já um percurso longo, como se foi adensando o teu envolvimento neste projecto?

A FIU – Jardins Suspensos® surgiu em ideia no ano de 2012, através das mãos da Ana Miguel (como bem sabes) materializando-se em Janeiro de 2013 (onde entrei eu).

O meu envolvimento foi sendo gradual,mediante o crescente volume de trabalho que ia aparecendo, aconteceu de uma forma natural e quase inevitável.

O percurso da FIU começou quase como uma brincadeira, começou como uma terapia pessoal que acabou por culminar quase que inevitavelmente num projecto mais profissional. Começou por uma loja de uma colega, também ela paisagista, e a aceitação por parte do público foi ótima, superando as expectativas.

Começámos a receber mais encomendas, mais pedidos de revendas, acabando por ser um crescimento gradual. 

Entretanto, a partir do ano 2015 até 2019, aproximadamente acabei por ficar apenas eu na FIU ( a Ana optou por se dedicar inteiramente ao campo da arquitectura paisagista), onde com muito esforço e dedicação consegui manter a marca, fazendo maioritariamente todas as tarefas necessárias, desde a compra da matéria prima, material, plantas, gestão dos stocks, passando pela produção dos kokedamas propriamente dita, a sua entrega ao cliente final, angariação de clientes, burocracia com contabilistas, etc…Foi um período desgastante, com algumas passagens muito conturbadas, que me ocupava quase todo o tempo, e que me levaram quase a desistir! Porém, e com ajuda da família e de alguns amigos, consegui resistir e arranjar forças para continuar, porque sempre acreditei na potencialidade do projecto e sempre acreditei que um dia iria compensar !

Em meados de 2019, deu-se uma espécie de “revolução” na FIU com a entrada da Telma. Uma vendedora nata, com uma apetência fora do comum para angariação de clientes e gestão das redes sociais. Encontrei o parceiro perfeito para esta minha caminhada, pois consegue ser ainda um pouco mais “doente” do que eu no que diz respeito ao trabalho! 

Isto possibilitou-me ter mais tempo para a produção e, consequentemente, para a parte criativa que tanto me faltava. Ela fica, então, responsável por toda a parte administrativa, e eu pela parte mais “prática” e produtiva. 

Desde então, a FIU tem vindo a crescer significativamente, estando agora com enormes perspectivas de crescimento às quais vamos tentar corresponder. 

Trabalho e conhaque…como doseias o teu cocktail?

Nem sempre é fácil dosear o tempo quando a mão de obra é fundamentalmente duas pessoas, e ainda por cima quando vivem e trabalham juntas no mesmo local! Porém, com alguma resiliência, tolerância e paciência, tudo é possível. 

Criámos horários laborais e pessoais (que às vezes não são bem seguidos à risca… O laboral acaba quase sempre por levar a melhor (hehe), mas é fundamental criarmos uma distinção entre o pessoal e o profissional: cada um ter o seu próprio espaço, e não nos deixarmos consumir pelo stress e preocupação. 

Até à data as coisas têm funcionado bem! 

Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal

No meu caso, a minha secretária é um pouco fora do comum..e adoro isso! Não tem canetas nem tablets…, nem folhas e agrafadores. Tem sim, plantas (muitas plantas), musgo, agulhas, fios de pesca, fios de “sapateiro”, linhas de algodão, pregos, alicates, tubos de latão, caixas de papelão!  

Trabalho numa pequena varanda, no centro do Porto (onde tudo acontece) que, apesar de estar no centro, é extremamente sossegada, onde predominam maioritariamente o canto dos passarinhos e o zumbido das abelhas. Tenho um enorme conjunto de árvores no meu alargado campo de visão, que me tranquiliza com os seus movimentos quase hipnotizantes naquelas brisas de Verão. Para mim, é o local de trabalho quase perfeito e, apesar de ser o meu “trabalho”, vejo mais como uma terapia pessoal, à qual já não consigo prescindir, e que me faz crescer imenso enquanto pessoa!

que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar o teu trabalho às casas dos teus clientes?

Fundamentalmente, através das redes sociais e do marketing digital, penso que, com toda esta pandemia, estes processos vieram a ser “catalisados” de uma forma quase inevitável.

Apostamos também em parcerias com pessoas, projectos, que se identifiquem com a nossa forma de estar, e com os nossos princípios. Tentamos criar relações simbióticas em que ambos possamos ganhar com isso.

quem são os clientes da Fiu e o que é que os faz escolher os teus kokedamas?

Os clientes da FIU são clientes cientes da importância da preservação do ambiente que nos rodeia. Têm noção do impacto ambiental iminente, algumas vezes de uma forma um pouco “crua”, mas que no fundo percebem que alguma coisa não está bem e fazem algo para tentar mudar isso.

Os kokedamas FIU são únicos! Somos os embaixadores dos kokedamas em Portugal. Temos mais experiência e conhecimento do que qualquer outro, e isso traduz-se e reflecte-se na perfeição do nosso produto. Todas as plantas são escolhidas criteriosamente, todos os materiais são de primeira qualidade, as técnicas utilizadas, todas elas optimizadas e o mais sustentável possível, para criar um produto final melhor.

Quero acreditar que nos escolhem por criarmos um design duradouro e significativo que agregue valor e contribua para um planeta mais saudável.

Como descreverias a tua equipa de sonho?

A equipa de sonho, independentemente de quem seja, tem de partilhar os nossos valores, o nosso conceito, tem que se identificar com aquilo que acreditamos! 

Um bom analista financeiro que fornece uma estratégia inicial de crescimento sustentável, fundamental para o sucesso a longo prazo.

Uma excelente relação com todos os parceiros revendedores.

Bons vendedores que compreendam e consigam passar a nossa mensagem. 

Um bom marketeer que consiga estar sempre a par das novas tendências do marketing digital e consiga, ao mesmo tempo, inovar no branding.

Mas, fundamentalmente, a “equipa de sonho” iria ter que ser a melhor no seu campo e, acima de tudo, partilhar da nossa visão:

Um profundo respeito e consideração pelo bem estar do planeta e dos seus recursos!

Como é para ti ser empreendedor no Porto / em Portugal?

O Porto está a tornar-se  cada vez mais um “porto” financeiro, uma verdadeira “incubadora” de ideias, onde surge talento e oportunidade quase ao virar de cada esquina e, como tal, exige de qualquer empreendedor, particular atenção ao detalhe, saber agarrar a oportunidade quando esta aparece, estar num constante estado de alerta. Mas, ao mesmo tempo, saber e ter a noção que vai haver falhas, e mais do recriminar essas falhas, ter a humildade de aprender com elas, porque só assim iremos evoluir de uma forma sustentável e a longo prazo.

O que está, para a Fiu, a seguir à próxima curva?

A FIU tem um potencial enorme, é muito mais do que a simples venda de kokedamas. Houve uma evolução natural e necessária naquilo que diz respeito ao produto em si (kokedama) com a introdução permanente de novas espécies, de forma a aliciar constantemente o cliente. Damos muita importância ao feedback recebido, quer pelos nossos clientes quer pelos nosso parceiros revendedores, e, nesse sentido, houve um acrescentar de complementos ao produto, de forma a colmatar alguns entraves por eles (clientes) colocados. Nomeadamente, a introdução de novas e variadas estruturas de forma a ser possível pendurar os kokedamas sem ter que andar a “furar tectos”.

O caminho da FIU passa por abraçar a diversidade e promover a responsabilidade social. Estamos empenhados em contribuir de uma forma mais impactante e causar mudanças mais positivas! Para isso, temos apostado mais em acções de formação, nomeadamente, os nossos workshops, onde mais do que aprender a fazer kokedamas, procuramos que quem participa se sinta um pouco mais feliz, mais realizado, que consiga abstrair-se do stress diário, e encontre alguma paz, harmonia e felicidade nesse tempo. E, ainda, que pegue nessa felicidade e a espalhe, que a semeie por quem o rodeia! Acreditamos que “pequenas” acções podem fazer uma grande diferença! 

O futuro vai passar sempre por uma constante reinvenção, e uma constante dinâmica, sem nunca perder o foco naquilo que nos define. Queremos puxar os nossos limites, mas sempre com uma abordagem atenta ao detalhe e ligada aos princípios do ser humano, optando por um design sustentável e uma constante inovação. Queremos ter um impacto positivo, deixar um “rasto” de felicidade por onde passarmos, fazer pessoas mais felizes com o nosso trabalho. No fundo, tentar aquele objectivo quase idílico e utópico de fazer um “mundo melhor”.

Que armas usaste, a nível profissional, contra as maleitas da pandemia?

Curiosamente, nesta pandemia, acabámos por ter mais trabalho do que o habitual, fruto das campanhas que fizemos junto das redes sociais. No que diz respeito aos nossos parceiros revendedores, houve uma quebra muito grande, visto que praticamente todos os estabelecimentos de venda ao público estavam encerrados. Porém, as nossas vendas online dispararam, fruto também de uma boa estratégia de marketing digital, apesar de o nosso produto ser mais “apetecível” ao vivo.

quais foram as maiores lições que aprendeste, nestes anos enquanto empreendedor?

Acho que vou ser muito simples e prático nesta questão e, como é óbvio, contextualizá- la com base na minha mais modesta experiência. 

Resiliência, persistência, motivação, sacrifício, humildade, ser auto-didata, vontade de querer sempre melhorar e aprender, estar actualizado na área em que trabalhamos, estar atento a tendências e novidades, estar na vanguarda do que nos interessa, tentar estar sempre “um passo à frente”, nunca tomar nada como garantido e, nesta era de globalização, ser multidisciplinar!

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Rui Salgado