Se à primeira vista aparenta uma amigável calma com uma pitada de timidez, o seu trato jovem e alegre depressa faz adivinhar a explosão ordenada de cores que Teresa Rego, de 30 anos, exprime na sua obra. 

Mestre em arquitectura pela Universidade do Minho, foi até Londres para perseguir a sua paixão por ilustração. Aí, ingressou no mestrado em ilustração na University of Arts London. Viveu na cidade durante 3 anos, experiência que admite ter marcado o seu percurso, bem como a sua linguagem artística.

De volta à cidade onde nasceu, em 2018, passou um período no nosso cowork, onde a conhecemos, bem como o seu trabalho. E, daí, vieram as primeiras colaborações — uma intervenção notável na nossa montra no período natalício e alguns workshops de linogravura no nosso espaço.

Em 2019, abriu o seu atelier e showroom no número 475 da Rua de Oliveira Monteiro, onde se dedica inteiramente ao trabalho de ilustração e design, como intervenções em montras, ilustração de grande escala, têxteis, branding e interiores, em colaboração com várias marcas nacionais e internacionais.

Algumas menções incluem a selecção para os World Illustration Awards pela AOI, em 2017, Selecção top 12 UK designers pela Habitat UK, em 2019, e a menção honrosa no concurso de ilustração em cerâmica da Vista Alegre, também em 2019. 

Entre diversas exposições, participou na Bienal de Veneza em 2017, no 9th illustration Research symposium na Universidade Anglia Ruskin em Cambridge em 2018, Somerset House em Londres em 2017 e no Centro de Artes da Figueira da Foz a convite da editora Bruaa.

Actualmente, a artista integra a primeira exposição colectiva PANO DE FUNDO 2021, patente na CRU até 10 de Junho. Aqui, no seu atelier ou na sua loja online, pode encontrar-se uma miríade de formatos e dimensionalidades do seu trabalho.

Como vieste a tornar-te ilustradora?

Olhando para trás, acho que era inevitável. Durante o meu percurso em arquitectura fui-me relacionando cada vez mais com a parte artística e conceptual em vez da parte técnica. Quando terminei o curso simplesmente assumi que não era algo que me fazia feliz. A minha vontade de me dedicar a 100% à ilustração era cada vez maior, e ter ido para Londres na altura em que fui foi provavelmente das melhores decisões que tomei. O que aprendi permite-me desenvolver os meus trabalhos de ilustração e colaborações e também uma parte de trabalho mais pessoal de criar produtos com os meus desenhos.

És senhora ou escrava do teu tempo?

Para mim uma das melhores coisas de trabalhar por conta própria é ser eu a gerir o meu tempo. Horas de trabalho não são sinónimo de criatividade e trabalho feito, e é importante para mim ter isso presente e perceber que há dias super produtivos e outros em que mais valia ter ficado em casa.

Ter um espaço só de trabalho fora de casa para mim é essencial e ajuda a estabelecer alguma rotina necessária para fazer bom uso do meu tempo.

Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal

Guardo muitos cadernos e calendários, gosto de fazer listas de tarefas semanais.

Tenho uma zona onde trabalho só no computador e outra onde trabalho com outros suportes e faço as minhas colagens, pinturas, etc. É importante esta semi-organização, que parece bastante simples mas caso contrario estaria coberta de papeis, tintas, cadernos e telas por todo o lado.

Quem são as tuas maiores referências na área da ilustração? o que te impressiona nel@s?

A natureza e a arquitectura são sem dúvida os temas que mais me inspiram. As cores, as formas e texturas que daí advém são inacabáveis.

Admiro muito o trabalho de Josef Frank, e mais actual, Camille Walala.

Quais são os teus canais de comunicação de eleição que usas para fazer conhecer o teu trabalho?

Nos últimos anos o instagram funciona como registo do meu processo de trabalho e divulgação do percurso que vou realizando. Principalmente durante este ultimo ano foi essencial. Não acho no entanto que torne dispensável ter um site organizado e actualizado.

Que princípios te regem quando atribuis um preço ao teu trabalho ou negoceias com um cliente?

Desde o inicio da minha prática que fui confrontada com os parâmetros que devia ter em consideração na realização de orçamentos, apesar dos valores para trabalhos de ilustração ainda serem demasiado vagos.

Alguns parâmetros mais imediatos que tenho em conta são o tamanho do cliente/ marca, o uso da ilustração, o território, a duração, e caso se aplique, quantidades. Claro que existem outras variantes como os anos de experiência.

Como proteges a tua criatividade?

Acho que cada vez é mais difícil se estivermos a falar do meio digital.

No que depende de mim, entregar sempre um contrato ao cliente para ter a certeza que não há falhas de comunicação é essencial.

Recorda um dos teus momentos de maior orgulho profissional / Que projecto mais te encheu as medidas?

Quando ainda estava a estudar fui seleccionada para os World illustration awards da Association of illustrators em Londres. Foi um reconhecimento muito importante para mim pois estava mesmo no inicio da minha prática, e foi relativo a um projecto que exigiu muito de mim, a renovação de 2 restaurantes em Londres desde as ilustrações na parede, aos menus, peças decorativas, iluminação, tudo um pouco.

Espero no futuro colaborar em outro projecto assim, quem sabe em parceria com gabinetes ou arquitectos. Trabalhar em diferentes suportes é algo que me interessa bastante.

Quem é a Teresa quando não está a pintar, recortar e colar?

A Teresa só gosta mesmo de estar a desenhar, a cozinhar ou a passear.

Quais foram as maiores lições que aprendeste, neste últimos anos enquanto empreendedora/ freelancer?

Persistência. Acho que é muito importante em qualquer fase .

Há 2 frases que para mim fazem muito sentido :

“ Its a marathon , not a sprint” e “The day you plant the seed is not the day you collect the fruit”

Persistência, paciência e muito trabalho.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Teresa Rego