Virgínia França é reconhecida no meio como a melhor vendedora de marcas independentes, tendo elevado a loja da CRU ao nível de um dos melhores pontos de venda de peças autorais do país.
Isto não é um exagero!
Tagarela, sorridente, terra-a-terra, no trato pessoal. Honesta, atenta, dedicada, a nível profissional. Com uma veia comercial evidente, e aguçada por uma personalidade extrovertida, a Vi (como carinhosamente a chamamos) aplica técnica, sistematização e sensibilidade, quando representa as 50 marcas independentes, que (merecidamente) a procuram e mimam.
A Vi tem um percurso diversificado e uma vida repleta de experiências heterogéneas entre si, que a fizeram competente, resiliente e multifacetada.
Com 39 anos, tem duas licenciaturas, em Ciência de Computadores (FCUP), e em Psicologia (UAB). Não obstante, foram os muitos anos no sector comercial que a dotaram das qualidades que agora servem a sua expertise.
Dos 22 anos de experiência, 15 foram dedicados ao grupo Ricon, no qual se tornou gestora comercial e coordenadora de outlets da Gant (Women e Home), Henry Cottons e Jacob Cohen, que, não só lhe garantiram conhecimento e confiança mais que suficientes, como também a levaram a uma vontade de independência e autogestão.
Perante este contexto, foi em 2016 que a CRU conquistou a dedicação deste peso pesado, que, desde então, se tem vindo a afirmar e a tomar um papel cada vez mais fundamental no seio do creative hub.
A gestora da loja da CRU é um ‘livro aberto’ e quem quiser conhecer as suas peripécias de vida pessoal, terá apenas que lhe fazer uma visita na CRU, novamente com a portas abertas a partir de amanhã, e de segunda a sábado, entre as 9h30 e as 19h.
Que estrelas se alinharam para que estivesses hoje no comando da loja da CRU ?
A minha infância foi passada entre pedaços de tecido e linhas que via serem transformados em peças de roupa fabulosas, a minha mãe era modista e trabalhava por conta própria. Desde cedo, aprendi a respeitar o trabalho árduo de quem não tem um salário certo no final do mês, mas trabalha no que lhe faz sorrir a alma. Assim, e depois de um percurso profissional recheado de experiências, decidi ao fim de 20 anos iniciar também o meu próprio negócio apoiando o design independente nacional e tentar ajudá-lo a ser valorizado. As portas da Cru Loja abriram no mesmo momento e por isso todas as estrelas se alinharam para que eu fizesse parte desta família.
O que fazes para ‘desconectar’?
Quando a porta da loja se fecha, sou a mãe do Gustavo. É importante essa separação, é onde vou buscar energia para o dia seguinte. Um dos factores que mais pesou na decisão de mudança de carreira foi poder vê-lo crescer sem pressa. Assim há um horário para a Virgínia trabalhadora independente e para a Virgínia mãe do Gustavo.
Que critérios segues para a selecção das marcas e designers que representas?
A curadoria é feita através de uma leitura constante e progressiva daquilo que os nossos clientes procuram, privilegiando a sustentabilidade, o comércio justo, o made in Portugal. Na nossa pesquisa, ora analisamos propostas que nos chegam por email ou redes sociais, como o instagram, ora através de contacto directo, fazendo a nossa selecção de acordo com o nosso mercado que, ao longo do tempo, também se foi tornando cada vez mais selectivo e informado.
Quem são os clientes da CRU e o que é que os faz escolher os teus produtos?
O cliente tipo da CRU é um cliente exigente, com bom gosto, que aprecia qualidade acima de quantidade. Trata-se de um tipo de cliente que pretende comprar menos, mas melhor, que gosta de se diferenciar e, portanto, com personalidade própria. Trata-se ainda de um cliente que aposta no design independente nacional, com preocupações ambientais e sociais, que sabe que ser sustentável é, primeiramente, apostar no comércio local e justo, sabendo quem fez o quê. Não se tratando de um cliente que apenas consome, é um cliente que faz compras com consciência.

Atrás de uma grande mulher está sempre…quem?
Um marido que apoia seja qual for a decisão e uma comunidade de profissionais que se apoia e interajuda. É fabuloso poder seguir a caminhada com pessoas que nos acrescentam tanto, seja com a sua capacidade de criação, como os designers que representamos, seja com uma palavra de entusiasmo e ânimo nos dias menos positivos, ou ainda como equipa de trabalho que faz deste Creative Hub um todo orgânico e familiar.
O que te faria mais feliz ou realizada profissionalmente?
A minha realização profissional passaria sem dúvida pela possibilidade de mostrar e representar o design nacional sustentável ao mundo. Mostrar que não temos só a qualidade de produção mas também a criação de pessoas que são intemporais.

Uma vida na escola ou a escola da vida?
Uma vida na escola. Um dos meus maiores prazeres é estudar coisas novas, aprender assuntos distintos. Sou uma geek assumida. Adoro ler, assistir a webinars, pesquisar sobre algum assunto novo! A única coisa que me faz desistir desses prazeres é o prazer maior de ser mãe e passar tempo com o meu filho.
Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?
A ausência do contacto humano foi algo que me afectou imenso, sinto muita falta dessa conexão. Em termos económicos foi também um ano difícil. No entanto a quantidade de mensagens, emails recebidos por clientes, designers fez-me ter a certeza que o caminho é o certo e que de alguma forma fazemos falta na vida das pessoas. Isso é para mim o melhor feedback que poderia ter tido.
Que diferenças esperas encontrar no mundo da venda a retalho na era pós-covid?
A loja online será sem dúvida uma ferramenta essencial para o novo normal que se avizinha. Teremos um cliente mais preparado, que fará pesquisa no conforto do seu lar e virá à procura de coisas mais específicas focado na qualidade e intemporalidade do que compra. A sustentabilidade não só em termos ecológicos mas também económicos passará a estar presente e por isso irá comprar mais localmente com a certeza de onde foi produzido. Na Cru estaremos preparados porque sempre foi o nosso mote.
Tens algum motto ou mantra que recordas em períodos mais desafiantes?
“A dor de hoje será a lição de amanhã”; assim tudo o que nos acontece poderia sempre ser pior, por isso, há que dar o melhor e continuar.

O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.
Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Virginia França