Livro de Horas é o nome dos missais — livros ilustrados com origem na idade média — com o calendário das festas e dos santos, as Horas da virgem da cruz, do Espírito Santo e dos mortos, as orações e os salmos penitenciais. Livro de Horas é ainda o nome de um livro de poemas de Rilke que, segundo Ana Frois (après Rilke), teve como propósito «encontrar imagens para as [suas] transformações». Nesta selecção de 6 cadernos de uma mais longa série, a autora abre uma janela sobre «um registo das passagem das horas e dos dias nestes últimos meses». A evocação dos acontecimentos do seu próprio calendário secular e privado.
«Os desenhos não representam a realidade à minha volta, nem fixam acontecimentos. São desenhos rápidos e abstractos que revelam o que visualmente me interessa numa determinadaaltura, ou temas que voltam e se repetem. Estes desenhos também não pretendem organizar uma narrativa. Simplesmente registam a passagem do tempo. Ao folhear os cadernos vejo um dia a seguir ao outro, como numa fuga musical. Gosto da rapidez, da repetição e do formato, pequeno e portátil como um livro».
O processo quasi-diarístico presente nesta obra revela uma curiosidade extática e o gesto de se votar à singularidade do seu próprio espanto. A imaginação realiza esse olhar sobre o mundo: o traço, a cor, a textura ou a forma são as suas ferramentas. O resultado é uma multiplicidade de composições visuais, mais formais ou mais viscerais, mais contidas ou mais convulsivas; sempre a partir de um desenho, de uma colagem ou de uma frase. E que fazem parte de um projecto mais amplo: time is the tiger.