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Rui Ribeiro

Rui Ribeiro | Musgo

By | CRU Spotlight

Rui Ribeiro é co-fundador da Musgo, uma marca de design e produção de peças de mobiliário — com especial enfoque nos candeeiros —, feitas a partir da reutilização de madeiras e outros materiais sustentáveis.

Rui Ribeiro nasceu a 1985 e é licenciado em desporto e educação física pela FADE-UP. 

No regresso a Portugal, em 2016, após uma estadia de 3 anos no Rio de Janeiro, ele e a sua parceira e arquitecta Margarida Monteiro, decidiram consumar a aspiração em comum: dar vida aos excedentes de produção e aos materiais resultantes de recuperações e restauros de casas antigas portuguesas – portas, janelas, vigas.

Da simplicidade e respeito pelas características dos materiais que recuperam resulta um design intemporal. Paralelamente, a incessante procura pelo menor impacto ambiental com os seus produtos leva-os a estabelecer parcerias com instituições de ensino e investigação como a Universidade de Aveiro, bem como a utilizar materiais inovadores e inócuos ambientalmente, como o eco-cimento.

A loja da CRU tem orgulhosamente representado a Musgo e vendido os seus candeeiros desde 2018. A nossa relação com o Rui e a Margarida tem vindo a estreitar-se ainda mais desde a criação da Between Parallels, associação que advoga o design e desenvolvimento sustentáveis em Portugal, e onde todos somos sócios fundadores.

As peças da Musgo podem ser encontradas no site da marca ou na loja física / online da CRU.

O que é que te levou a criar a Musgo?

Eu e a Margarida, sempre tivemos ambição de trabalhar juntos num negócio próprio por acreditarmos que nos complementaríamos e quando regressamos do Brasil, em 2016, vimos a oportunidade de criar a Musgo.

Casa, escritório, coworking, oficina?… Onde passas as tuas horas de criatividade e produtividade?

O local de trabalho é o nosso atelier, numa antiga vacaria, que foi criado por nós e para nós e é onde nos sentimos bem! Estar em contacto com a Natureza é algo que nos traz tranquilidade, paz e inspiração para novos candeeiros e outras peças!

Quem são os clientes da Musgo e o que é que os faz escolher os teus produtos?

O nosso público alvo é maioritariamente um público ligado à sustentabilidade com preocupações ambientais e que valoriza o trabalho manual, o impacto social, as tradições portuguesas e a inovação associada ao Design. Somos igualmente solicitados por Arquitetos e por gabinetes de Arquitectura de Interiores. Os nossos pontos de venda são o nosso site e as redes sociais, lojas físicas parceiras e alguns mercados e exposições que participamos enquanto marca Musgo.

Como proteges a tua criatividade?

Essa é uma questão complexa devido ao tipo de produto e à facilidade com que as formas e os materiais podem ser ligeiramente alteradas e assim ser difícil proteger o que é nosso.

Quem mais faz parte do projecto Musgo? Como dividem as vossas tarefas e responsabilidades?

A Musgo foi criada por mim e pela Margarida. De uma forma genérica a Margarida é a criativa e eu mais responsável pela logística, mas ambos produzimos manualmente os candeeiros e temos a ajuda de um carpinteiro para as madeiras.

Como é para ti ser empreendedor no Porto / em Portugal?

Ser empreendedor, ou tentar, é sobretudo um desafio e um processo de crescimento diário para conseguir estar sempre à altura do que possa surgir. Vivemos com a incerteza do futuro mas com a convicção que a cada dia que passa estamos mais perto de sermos bem-sucedidos.

A que tribos pertences?

Pertenço, enquanto sócio fundador, à Between Parallels, uma Associação para o Design e Desenvolvimento Sustentável. Esta participação deve-se ao facto de um grupo de marcas amigas do ambiente, microempresas ou empresas em nome individual, sentirem a necessidade de ter uma voz conjunta e reforçada.

O que te faria mais feliz ou realizado profissionalmente?

O futuro passa por criar novos candeeiros, alargar a nossa oferta para o mobiliário, experimentar outros materiais ecológicos e inovadores e levar a Musgo aos quatro cantos do Mundo!

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

No que diz respeito às práticas diárias pouco mudou pois já tínhamos como hábito estarmos bastante “confinados” ao nosso Atelier. Contudo, passamos a sair ainda menos vezes (idas a fornecedores, parceiros e clientes) que o habitual. Quanto ao trabalho, apesar da incerteza e da maioria das lojas parceiras estarem fechadas, foram surgindo novos clientes através do nosso site e das nossas redes sociais o que, de certa forma, manteve o nosso volume de trabalho e conseguimos ter tempo para o processo criativo.

Quais foram as maiores lições que aprendeste, nestes anos enquanto empreendedor?

Sendo a Musgo um projecto iniciado do ponto zero e numa área de actuação relativamente nova fez com que todo o processo fosse de muita aprendizagem numa perspectiva de melhorar e evitar ao máximo erro. Acredito que fomos sempre sendo desafiados, por clientes e parceiros, e isso fez com que mais que errarmos fomos nos adaptando às exigências mantendo-nos sempre fiéis à identidade da Musgo.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Musgo

Teresa Rego

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Se à primeira vista aparenta uma amigável calma com uma pitada de timidez, o seu trato jovem e alegre depressa faz adivinhar a explosão ordenada de cores que Teresa Rego, de 30 anos, exprime na sua obra. 

Mestre em arquitectura pela Universidade do Minho, foi até Londres para perseguir a sua paixão por ilustração. Aí, ingressou no mestrado em ilustração na University of Arts London. Viveu na cidade durante 3 anos, experiência que admite ter marcado o seu percurso, bem como a sua linguagem artística.

De volta à cidade onde nasceu, em 2018, passou um período no nosso cowork, onde a conhecemos, bem como o seu trabalho. E, daí, vieram as primeiras colaborações — uma intervenção notável na nossa montra no período natalício e alguns workshops de linogravura no nosso espaço.

Em 2019, abriu o seu atelier e showroom no número 475 da Rua de Oliveira Monteiro, onde se dedica inteiramente ao trabalho de ilustração e design, como intervenções em montras, ilustração de grande escala, têxteis, branding e interiores, em colaboração com várias marcas nacionais e internacionais.

Algumas menções incluem a selecção para os World Illustration Awards pela AOI, em 2017, Selecção top 12 UK designers pela Habitat UK, em 2019, e a menção honrosa no concurso de ilustração em cerâmica da Vista Alegre, também em 2019. 

Entre diversas exposições, participou na Bienal de Veneza em 2017, no 9th illustration Research symposium na Universidade Anglia Ruskin em Cambridge em 2018, Somerset House em Londres em 2017 e no Centro de Artes da Figueira da Foz a convite da editora Bruaa.

Actualmente, a artista integra a primeira exposição colectiva PANO DE FUNDO 2021, patente na CRU até 10 de Junho. Aqui, no seu atelier ou na sua loja online, pode encontrar-se uma miríade de formatos e dimensionalidades do seu trabalho.

Como vieste a tornar-te ilustradora?

Olhando para trás, acho que era inevitável. Durante o meu percurso em arquitectura fui-me relacionando cada vez mais com a parte artística e conceptual em vez da parte técnica. Quando terminei o curso simplesmente assumi que não era algo que me fazia feliz. A minha vontade de me dedicar a 100% à ilustração era cada vez maior, e ter ido para Londres na altura em que fui foi provavelmente das melhores decisões que tomei. O que aprendi permite-me desenvolver os meus trabalhos de ilustração e colaborações e também uma parte de trabalho mais pessoal de criar produtos com os meus desenhos.

És senhora ou escrava do teu tempo?

Para mim uma das melhores coisas de trabalhar por conta própria é ser eu a gerir o meu tempo. Horas de trabalho não são sinónimo de criatividade e trabalho feito, e é importante para mim ter isso presente e perceber que há dias super produtivos e outros em que mais valia ter ficado em casa.

Ter um espaço só de trabalho fora de casa para mim é essencial e ajuda a estabelecer alguma rotina necessária para fazer bom uso do meu tempo.

Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal

Guardo muitos cadernos e calendários, gosto de fazer listas de tarefas semanais.

Tenho uma zona onde trabalho só no computador e outra onde trabalho com outros suportes e faço as minhas colagens, pinturas, etc. É importante esta semi-organização, que parece bastante simples mas caso contrario estaria coberta de papeis, tintas, cadernos e telas por todo o lado.

Quem são as tuas maiores referências na área da ilustração? o que te impressiona nel@s?

A natureza e a arquitectura são sem dúvida os temas que mais me inspiram. As cores, as formas e texturas que daí advém são inacabáveis.

Admiro muito o trabalho de Josef Frank, e mais actual, Camille Walala.

Quais são os teus canais de comunicação de eleição que usas para fazer conhecer o teu trabalho?

Nos últimos anos o instagram funciona como registo do meu processo de trabalho e divulgação do percurso que vou realizando. Principalmente durante este ultimo ano foi essencial. Não acho no entanto que torne dispensável ter um site organizado e actualizado.

Que princípios te regem quando atribuis um preço ao teu trabalho ou negoceias com um cliente?

Desde o inicio da minha prática que fui confrontada com os parâmetros que devia ter em consideração na realização de orçamentos, apesar dos valores para trabalhos de ilustração ainda serem demasiado vagos.

Alguns parâmetros mais imediatos que tenho em conta são o tamanho do cliente/ marca, o uso da ilustração, o território, a duração, e caso se aplique, quantidades. Claro que existem outras variantes como os anos de experiência.

Como proteges a tua criatividade?

Acho que cada vez é mais difícil se estivermos a falar do meio digital.

No que depende de mim, entregar sempre um contrato ao cliente para ter a certeza que não há falhas de comunicação é essencial.

Recorda um dos teus momentos de maior orgulho profissional / Que projecto mais te encheu as medidas?

Quando ainda estava a estudar fui seleccionada para os World illustration awards da Association of illustrators em Londres. Foi um reconhecimento muito importante para mim pois estava mesmo no inicio da minha prática, e foi relativo a um projecto que exigiu muito de mim, a renovação de 2 restaurantes em Londres desde as ilustrações na parede, aos menus, peças decorativas, iluminação, tudo um pouco.

Espero no futuro colaborar em outro projecto assim, quem sabe em parceria com gabinetes ou arquitectos. Trabalhar em diferentes suportes é algo que me interessa bastante.

Quem é a Teresa quando não está a pintar, recortar e colar?

A Teresa só gosta mesmo de estar a desenhar, a cozinhar ou a passear.

Quais foram as maiores lições que aprendeste, neste últimos anos enquanto empreendedora/ freelancer?

Persistência. Acho que é muito importante em qualquer fase .

Há 2 frases que para mim fazem muito sentido :

“ Its a marathon , not a sprint” e “The day you plant the seed is not the day you collect the fruit”

Persistência, paciência e muito trabalho.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Teresa Rego

Diogo Amorim | Senzu

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O Diogo é ‘o’ nerd do café. E o café é, por si só, um mundo.

Com 32 anos, Diogo Amorim soma uma licenciatura em Gestão da Universidade Católica do Porto, um Mestrado em Relações Internacionais do Minho e ainda um Mestrado em Economia e Ciência do Café Universidade Trieste.

Hoje em dia, dá formação de torra no Mestrado de Café e também na Joper (fabricantes de torradores) e é consultor nesta área para várias empresas.

É o fundador da Luso e da Senzu Coffee Roasters e também o co-fundador de uma escola de café, a única do Porto – abcoffee – onde é formador nos cursos de certificação SCA de torra, análise sensorial e café verde. 

O Diogo foi-nos apresentado pelo nosso amigo em comum, Miguel Barbot, no âmbito de uma relação fornecedor-cliente. No entanto, tornou-se amigo e cúmplice de uma parceria muito mais significativa do que apenas revender o melhor café de especialidade. Mas isso desvendaremos em breve 🙂

O que é que te levou a criar a Senzu?

Desde pequeno que vivo no mundo do café. O meu pai é distribuidor de café para restaurantes e cafés há mais de 40 anos, e em pequeno nas férias de verão durante umas semanas ia ajudar. A paixão e interesse por café só surgiu mais tarde. Após 6 meses de estágio em Moçambique, o qual integrei o programa InovContacto após o Mestrado em RI, decidi que queria começar no negócio de família mas apostar primeiro no conhecimento e formação na área de café.

Verifiquei que havia um Mestrado em Café, ao qual me candidatei e fui aceite. Nesse Mestrado, em 2015, entrei em contacto com jovens dos mais variados países produtores de café, foi uma experiência única. Durante uma viagem a Viena, Budapeste e Bratislava com alguns desses amigos e colegas de mestrado, fiquei a conhecer o conceito Specialty Coffee. Ao regressar a Portugal, decidi que queria criar uma torrefação de café de especialidade pois ainda não havia. Durante o processo de criação surgiram 2 torrefações (1 no Porto, outra em Lisboa). Assim nasceu a Luso Coffee Roasters. Mais tarde em 2019 mudei a localização da Luso para o Porto numa parceria com a extinta coffee shop Bird of Passage e decidi criar outra marca, a Senzu Coffee Roasters. A Luso ficaria para cafés de especialidade com sabores e blends características do consumidor português, e a Senzu teria cafés de origem única com sabores e qualidade única.

Que livros mais te influenciaram na tua vida profissional?

Ernesto Illy fundador da illy caffé, uma empresa que aposta imenso em inovação e conhecimento da indústria do café.

Livro Espresso Coffee

Uncommon Grounds de Mark Pendergrast

World Atlas of Coffee de James Hoffmann

The Craft and Science of Coffee de Britta Folmer

Que formas encontras de activar a Senzu e de fazer chegar o teu café às chávenas dos teus clientes?

Como não sou muito bom em marketing e o capital disponível é muito limitado, a Senzu cresce basicamente pelo passa a palavra e pela confiança de cada cliente. Por norma os clientes gostam da Senzu e da forma de contacto que tem comigo, digo comigo porque muitos sabem que a Senzu é o Diogo, e isso é o que os faz voltar.

Como descreverias a tua equipa de sonho?

A Senzu é muito pequena para ter equipa, tudo funciona apenas com uma pessoa. E será sempre assim, o objetivo não é crescer constantemente. Obviamente que ainda há espaço para crescer e ser mais sustentável, mas até um certo ponto. A minha equipa são os meus clientes tanto B2B como os B2C, e os meus colegas de profissão. Pois no café de especialidade existe uma pequena comunidade de profissionais da área em que nos relacionamos muito bem (grande parte).

Quais são as tuas principais aspirações enquanto coffee roaster?

Ser torrador é uma constante aprendizagem. É continuar a praticar, a ter formação na área, partilhar experiências com outros torradores, ir a eventos. Absorver o máximo de informação pois é uma evolução contínua.

Como vês o crescimento e a escala da Senzu nos próximos anos?

Respondo um pouco anteriormente, não pretendo crescer. A nível de projetos cada vez mais acredito em projetos em conjunto com outros negócios. Sempre pretendi ter a Senzu num espaço aberto ao público para haver a possibilidade de provar o café no local controlado pelos standards da Senzu e onde se torra. Essa oportunidade surgiu com a CRU Creative Hub, um local onde junta vários experts em diferentes áreas e com loja aberta ao público, onde agora podem usufruir de um café de filtro da Senzu bem como levar café para casa.

Quem é o Diogo quando não está a torrar (ou a beber) café?

Basicamente o covid veio estragar os poucos hobbies que tenho. Desporto em conjunto, viajar e ir a restaurantes/cafés. Gosto muito de fazer o meu desporto em grupo, algo que há mais de um ano não o faço de forma regular. Grande parte do pouco dinheiro que tenho para mim após despesas pagas são para estes dois prazeres que me fazem crescer muito enquanto pessoa e também profissionalmente: viajar pelo mundo (tenho o sonho de visitar todos os países do mundo) sempre me incutiram a cultura de “quem quiser saber, é passear ou ler” eu faço os dois mas mais o primeiro; visitar restaurantes/cafés é uma experiência social, cultural e sensorial de que podemos retirar muito dela, crescer e absorver toda a informação que nos é dada, ao mesmo tempo que comemos ou bebemos.

Uma vida na escola ou a escola da vida?

São os dois. A nossa vida é uma escola, porque como disse estamos sempre em aprendizagem mesmo que não queiramos.

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

Não alterou a forma de trabalho, apenas aprofundou as relações com quem trabalho. Pois todos nos vimos numa situação extremamente complicada (que ainda estamos) e que tivemos de ter uma atitude de compreensão e mútua ajuda entre nós.

Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar a preparar o seu drip coffee em casa?

Pesquisar informação na net, ver vídeos e blogs, e talvez fazer alguns pequenos workshops, de preferência na abcoffee

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Diogo Amorim

Ana Seixas

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Orgulhosamente criativa e independente, Ana Seixas é toda cor, luz, plantas, gatos, quadrados e bolas, pastas e tintas. ‘Daquelas que gosta de meter a mão na massa’, no atelier, separa o limpo do sujo e divide o seu tempo entre trabalho comissionado e projectos pessoais, a ilustradora e artista plástica é amiga e cúmplice da CRU, desde Junho de 2014, data em que chegou ao cowork.

Nasceu em Viseu, em 1984. Licenciou-se em Design pela Universidade de Aveiro e fez uma pós-graduação em Design Editorial na Bau, em Barcelona, cidade onde, mais tarde, concluiu o curso de ilustração infantil e juvenil na Eina. Actualmente, vive e trabalha no Porto.

Após ter trabalhado como Designer durante 5 anos para diferentes empresas de publicidade e revistas, decidiu dedicar-se inteiramente à ilustração, na qual recorrentemente se debruça sobre a interpretação do dia-a-dia, as relações com os animais e a natureza, paisagens reais e imaginárias.

A serigrafia também faz parte do seu percurso, tendo sido a responsável pela implementação de um estúdio de serigrafia na CRU de 2015 a 2020 — a Lola PrintScreen. 

Mais recentemente, a cerâmica tornou-se a menina dos seus olhos, a qual exibe, graciosamente, na sua loja/atelier  — na Rua de Oliveira Monteiro 483, no Porto — e na sua loja online, bem como em outros pontos de venda, como a CRU.

Sabemos que tens a  tua marca própria e que também és freelancer em ilustração. Conta-nos como foi que chegaste a esta forma independente de trabalhar.

Soube que queria ser freelancer desde a primeira semana em que comecei a trabalhar numa agência de comunicação, em Viseu. Isso de passar 8 horas do meu dia à espera de chegar a casa e ter tempo para dedicar às minhas coisas não era para mim. Tinha de ser o meu projecto a tempo inteiro, precisava de espaço e tempo para criar.

Fui saltando de part-time em part-time (em design ou noutra coisa qualquer) sempre tentando conciliar a estabilidade com a ansiedade de criar o meu projecto, ainda indefinido naquela altura.

Até que me cruzei com a ilustração e decidi especializar-me nessa área.

Comecei a procurar clientes e, entre os projectos de ilustração que foram surgindo e os desenhos que fazia para colocar à venda online, pouco a pouco o meu projecto foi tomando forma até chegar ao que é hoje.

Actualmente, o meu trabalho tem essas duas vertentes bem mais definidas: os projectos de ilustração para clientes —  trabalho sobre um briefing definido por eles, desenvolvendo ilustrações que serão depois usadas em suportes gráficos variados (livros, cartazes, folhetos, campanhas…) —  e as minhas lojas online e física, para as quais, crio vários tipos de produtos, ilustrações para decorar, peças de cerâmica, artigos têxteis, pins, postais, actividades para crianças, etc.

O que fazes para ‘desconectar’?

Às vezes esqueço-me do importante que é parar, mesmo quando o trabalho me dá prazer. Por isso tenho que me organizar mentalmente e obrigar-me a desligar do trabalho, sem sentimento de culpa. Tento encontrar outra actividade que me motive igualmente e que implique algum processo de aprendizagem: fazer yoga, nadar, caminhar, dançar ou patinar.

Casa, escritório, coworking, oficina?… Onde passas as tuas horas de criatividade e produtividade?

Um bocadinho de tudo! Gosto de estar em casa ou na mesa do café a pensar, ler e esboçar, planear, organizar o calendário e a fazer gestões de papeladas, a um ritmo mais pausado. 

Quando estou no atelier, é para desenvolver e criar o trabalho propriamente dito. Tenho uma zona onde posso desenhar ao computador ou no iPad e outra zona “suja” de oficina, onde faço as minhas peças de cerâmica e preparo encomendas.

Vou alternando consoante o que tenho que fazer e também como me sinto. Se o corpo me pedir para ficar em casa, tenho essa possibilidade e facilidade de me adaptar. É daquilo que mais gosto no trabalho por conta própria, danço ao meu ritmo.

Quem são as tuas referências na área da ilustração? Que super-poderes têm el@s?

Lisa Congdon and Louise Lockart são, talvez, as referências que tenho mais à mão. Ambas trabalham como freelancers e o seu trabalho de ilustração sai do papel e viaja para uma variedade infinita de suportes. E as cores, sempre as cores. 

Por outro lado, os criativos que me rodeiam acabam por me inspirar, inevitavelmente. Terão sempre maneiras diferentes de pensar e de enfrentar os projectos: essa ideia de que há uma infinidade de soluções para o mesmo problema e que todos podemos aprender uns com os outros interessa-me muito.

Que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar o teu trabalho aos olhos (e às casas/prateleiras) dos teus clientes?

Nem sei bem, acho que este é o meu grande desafio, comunicar com os clientes.

Sempre dediquei muito tempo a criar o meu site, enviar emails aos clientes com quem queria trabalhar, mas quando as redes sociais tomaram conta disto tudo foi aí que depositei a minha energia, sem saber muito bem como. 

Acabo por dedicar muito tempo ao Instagram e, ultimamente, uso as Newsletters para comunicar com os clientes da loja.

Como é para ti ser uma criativa independente, actualmente?

Criativa independente é uma definição que me empodera, obrigada! Ao princípio sentia que o freelancer, especialmente designer, era o que não conseguia trabalho numa agência, então, não tinha outra opção senão trabalhar por conta própria. Não sei se era a minha impostora a sussurrar-me ao ouvido ou se essa ideia existia realmente. 

No entanto, quando cheguei ao Porto e à CRU, essa ideia foi-se esbatendo e senti que, dentro desta comunidade de freelancers, entendemos-nos e ajudamo-nos uns aos outros a crescer. Para mim, ser criativa independente não é estar fechada numa sala, isolada do mundo a fazer o meu trabalho, mas exactamente o contrário. É poder partilhar com outros criativos, criar em conjunto, saltar as fronteiras da ilustração e do design e experimentar outras possibilidades. 

Por outro lado, senti, e ainda sinto, muitos entraves a nível fiscal, legal, social, sei lá… parece que deixaram a gaveta da desordem burocrática para os freelancers.

A que tribos pertences?

Sou da tribo que faz, os Makers, assim nos chamam. Daqueles que gostam de meter a mão na massa, mergulhar em materiais e ferramentas. 

Sou acumuladora de coisas que um dia me poderão servir e tenho o superpoder de ter 10 tesouras e não saber onde está nenhuma.

O que te faria mais feliz ou realizada profissionalmente?

Sou muito feliz e realizada profissionalmente! Gosto do que faço e posso viver do meu trabalho, não há nada melhor que isto. 

Talvez fosse mais feliz se aprendesse a lidar de forma mais saudável com as inseguranças e medos que por vezes me travam, mas isso já é outro processo.

Que outra profissão terias se não fosses ilustradora?

Olha, nunca pensei nisso! Jardineira, talvez. Não me importava de fazer pet sitting ou algo parecido.

Pastora? Teria que ser alguma profissão relacionada com cuidar de animais e/ou plantas.

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

Fechou tudo na semana em que ia inaugurar a loja física, foi uma bofetada fortíssima. Tive que lidar com esta desilusão e adaptar-me. A loja online funcionou bem e permitiu-me manter o projecto vivo.

Este tempo permitiu-me também embarcar num novo desafio e juntei-me ao Patreon, onde partilho o meu processo de trabalho e crio conteúdo apenas para quem me segue nessa plataforma. É uma maneira diferente de criar, mais livre e sem algoritmos viciados.

Por outro lado, os projectos de ilustração para clientes diminuíram e, à força, aprendi a trabalhar a outro ritmo, menos intenso e mais ponderado, o que até acabou por ser bom!

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Ana Seixas

Sérgio Gameiro | wetheknot

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Sérgio Gameiro é um dos fundadores da wetheknot. É formado em design e marketing de moda pela Universidade do Minho, enquanto que Sérgio Cardigos Oliveira, co-fundador, é designer de comunicação, tendo frequentado as Faculdades de Belas Artes de Lisboa e do Porto.

Em 2013, conhecemos o Sérgio e o Filipe por intermédio da Fernanda Pereira — designer de moda presente na CRU —, com quem partilhavam loja e estúdio no Bairro Alto. Influenciados pela Fernanda, recebemos a proposta desta marca praticamente desconhecida, a wetheknot, que produzia, então, calções de banho inéditos, feitos de tecidos de guarda-chuvas recuperados das ruas de Lisboa. Impressionados com estes e outros produtos desta dupla de designers, abrimos as portas da loja da CRU à WTK, o seu primeiro ponto de venda no Porto e onde ainda é possível encontrar o seu vestuário e acessórios vários.

A WTK é, de facto, uma das marcas mais acarinhadas por nós e os seus fundadores Sérgio e Filipe são dos fornecedores mais fiáveis e profissionais com quem já trabalhámos.

A wetheknot traçou um percurso de amadurecimento ao longo dos anos, de forma consistente e assumidamente como uma marca de slow fashion, baseada no consumo ético, que produz uma série de coleções de roupa e acessórios de edição limitada, sustentáveis e eco-friendly. 

Nas diversas visitas que já lhes fizemos, tanto na loja da Rua da Rosa, como no escritório do Centro de Inovação da Mouraria — do qual também somos fãs! —, fomos sempre recebidos com carinho e amabilidade.

Podem encontrar as peças wetheknot na sua loja online ou, claro, na loja da CRU.

O que é que te levou a criar a Wetheknot?

A wetheknot surge de uma insatisfação pessoal com o fast-fashion e pela curiosidade em explorar práticas de design mais alinhadas à sustentabilidade. Algo que até começar com o projeto da wetheknot ainda não tinha tido oportunidade de fazer, mesmo já estando a trabalhar na indústria têxtil portuguesa.

A wetheknot nasceu em 2010 quando conheci o Filipe no Porto, que me desafiou a embarcarmos no nosso primeiro projeto: trabalhar com tecidos de guarda-chuvas estragados que ele tinha encontrado abandonados na rua.

A partir daqui, lançámos a nossa primeira coleção de calções de banho produzida com o tecidos destes guarda-chuvas, ao mesmo tempo que ainda ia fazendo uns trabalhos em freelance. E em 2015, decidimos dedicar-nos totalmente a criar esta marca sustentável de acessórios e de roupa, e daí se desenrolou o nosso sonho com a wetheknot.

Trabalho e conhaque…como doseias o teu cocktail?

Por vezes torna-se difícil encontrar a dose certa de ingredientes para este cocktail, mas aqui vão algumas dicas para aprimorar a receita:

O Primeiro passo: é ter uma rotina de trabalho, e juntar a este mix um horário e fazê-lo cumprir.

Segundo passo: mexer bem, e depois adicionar à mistura o total usufruto dos fins-de-semana e, claro, fazer férias.

Terceiro e último passo: deitar a mistura para um copo, espremer umas gotinhas de limão, sem esquecer de não falar de trabalho depois das 20h e de só abrir o e-mail durante o horário de trabalho.

Casa, escritório, coworking, oficina?… Onde passas as tuas horas de criatividade e produtividade?

Começámos por alugar um escritório para trabalhar, mas há 4 anos mudámos-nos para um cowork de indústrias criativas, no Centro de Inovação da Mouraria. Foi uma mudança muito positiva a todos os níveis: estar em contacto com outras pessoas permite-nos ter mais espaço para partilha, crítica e diálogo. Partilhar o nosso espaço de trabalho leva-nos a criar novas sinergias, parcerias e inspirações. Para além de ser mais dinâmico, ajudou-nos muito a crescer profissionalmente, e também a nível pessoal.

Grande parte das minhas horas de criatividade e produtividade são passadas entre a nossa loja no Bairro Alto e o nosso atelier no Centro de Inovação da Mouraria.

Quais as tuas marcas de casual wear preferidas? O que têm de especial?

Há marcas incríveis pelo mundo e eleger apenas algumas seria muito difícil. Para mim é me mais fácil identificar aquilo que me inspira no mundo da moda. Neste caso, gosto muito da simplicidade e do design japonês. Aliás, sou fascinado pela cultura japonesa, nomeadamente a forma simples e certeira como trabalham os materiais. Para além disso, sou também muito fã do design escandinavo, especialmente pelo seu design simples, funcional e minimalista que dá primazia às linhas retas.

Os produtos da WTK são produzidos à imagem do Sérgio e do Filipe, ou a pensar nos seus clientes?

Os produtos são criados por nós, Sérgio e Filipe, à imagem do nosso cliente. O facto de termos uma loja permite-nos ter um contacto direto e imediato com os nossos clientes. Conseguimos receber o seu feedback de forma instantânea, o que é algo que valorizamos e que nos ajuda muito. Comunicamos também e cada vez mais pelo Instagram, que acaba por ser um canal que nos traz uma certa proximidade do nosso público. E também usamos o e-mail para responder a algumas dúvidas.

Como descreverias a tua equipa de sonho?

Pessoas que partilham os mesmos valores e ideais da wetheknot, como a sustentabilidade e o minimalismo. Estou muito contente com a minha equipa. Não somos uma equipa muito grande, mas somos unidos e o facto de sermos uma equipa pequena permite-nos estar todos envolvidos em diferentes áreas, o que traz um certo dinamismo ao nosso trabalho. Esforçamos-nos para dar liberdade a cada um de criar o seu espaço na wetheknot.

Como vês o crescimento e a escala da WTK nos próximos anos?

O nosso objetivo principal é continuar o trabalho que temos desenvolvido, nomeadamente a forma como temos vindo a produzir. Desde do início da pandemia que aspiramos a introduzir uma produção mais sustentável, a qual acabámos por chamar: made-to-order. Desta maneira, não temos stock e conseguimos controlar melhor o nosso desperdício, produzindo à medida que são feitas as encomendas. O meio ideal para este tipo de produção é online, mas no futuro gostaríamos de o expandir para o offline, possivelmente até as pessoas se habituarem a esta nova forma de produção e consumo.

Que app/software faz te ti um super-humano?

A nível de organização: uso o Google Drive para criar e partilhar vários documentos, e o Asana para delinear tarefas.

A nível de design: uso o Adobe Illustrator e o Photoshop, que são bastante intuitivos e incluem todas as ferramentas que preciso para o meu processo criativo.

Para inspiração: recorro ao Pinterest e Instagram pela atualização diária e quantidade de conteúdo existente.

Que outra profissão terias se não fosses designer?

Se não fosse designer, talvez gostasse de ser cozinheiro, porque gosto de cozinhar e de comer, ou talvez jardineiro, porque estou cada vez mais fascinado com o mundo vegetal. Aliás, estou  atualmente envolvido num projeto de implementação de uma horta no nosso espaço de coworking, com o objetivo de fazer crescer a nossa própria comida. 🙂

Que armas usaste, a nível profissional ou pessoal, contra as maleitas da pandemia?

No meu kit de sobrevivência à pandemia foi indispensável incluir: a prática de exercício físico, vestir-me como se fosse para o trabalho, uma caminhada matinal ou ao fim do dia e, claro, um copo de vinho.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia wetheknot

Virginia França

By | CRU Spotlight

Virgínia França é reconhecida no meio como a melhor vendedora de marcas independentes, tendo elevado a loja da CRU ao nível de um dos melhores pontos de venda de peças autorais do país.

Isto não é um exagero!

Tagarela, sorridente, terra-a-terra, no trato pessoal. Honesta, atenta, dedicada, a nível profissional. Com uma veia comercial evidente, e aguçada por uma personalidade extrovertida, a Vi (como carinhosamente a chamamos) aplica técnica, sistematização e sensibilidade, quando representa as 50 marcas independentes, que (merecidamente) a procuram e mimam.

A Vi tem um percurso diversificado  e uma vida repleta de experiências heterogéneas entre si, que a fizeram competente, resiliente e multifacetada.

Com 39 anos, tem duas licenciaturas, em Ciência de Computadores (FCUP), e em Psicologia (UAB). Não obstante, foram os muitos anos no sector comercial que a dotaram das qualidades que agora servem a sua expertise.

Dos 22 anos de experiência, 15 foram dedicados ao grupo Ricon, no qual se tornou gestora comercial e coordenadora de outlets da Gant (Women e Home), Henry Cottons e Jacob Cohen, que, não só lhe garantiram conhecimento e confiança mais que suficientes, como também a levaram a uma vontade de independência e autogestão.

Perante este contexto, foi em 2016 que a CRU conquistou a dedicação deste peso pesado, que, desde então, se tem vindo a afirmar e a tomar um papel cada vez mais fundamental no seio do creative hub.

A gestora da loja da CRU é um ‘livro aberto’ e quem quiser conhecer as suas peripécias de vida pessoal, terá apenas que lhe fazer uma visita na CRU, novamente com a portas abertas a partir de amanhã, e de segunda a sábado, entre as 9h30 e as 19h.

Que estrelas se alinharam para que estivesses hoje no comando da loja da CRU ?

A minha infância foi passada entre pedaços de tecido e linhas que via serem transformados em peças de roupa fabulosas, a minha mãe era modista e trabalhava por conta própria. Desde cedo, aprendi a respeitar o trabalho árduo de quem não tem um salário certo no final do mês, mas trabalha no que lhe faz sorrir a alma. Assim, e depois de um percurso profissional recheado de experiências, decidi ao fim de 20 anos iniciar também o meu próprio negócio apoiando o design independente nacional e tentar ajudá-lo a ser valorizado. As portas da Cru Loja abriram no mesmo momento e por isso todas as estrelas se alinharam para que eu fizesse parte desta família. 

O que fazes para ‘desconectar’?

Quando a porta da loja se fecha, sou a mãe do Gustavo. É importante essa separação, é onde vou buscar energia para o dia seguinte. Um dos factores que mais pesou na decisão de mudança de carreira foi poder vê-lo crescer sem pressa. Assim há um horário para a Virgínia trabalhadora independente e para a Virgínia mãe do Gustavo.

Que critérios segues para a selecção das marcas e designers que representas?

A curadoria é feita através de uma leitura constante e progressiva daquilo que os nossos clientes procuram, privilegiando a sustentabilidade, o comércio justo, o made in Portugal. Na nossa pesquisa, ora analisamos propostas que nos chegam por email ou redes sociais, como o instagram, ora através de contacto directo, fazendo a nossa selecção de acordo com o nosso mercado que, ao longo do tempo, também se foi tornando cada vez mais selectivo e informado.

Quem são os clientes da CRU e o que é que os faz escolher os teus produtos?

O cliente tipo da CRU é um cliente exigente, com bom gosto, que aprecia qualidade acima de quantidade. Trata-se de um tipo de cliente que pretende comprar menos, mas melhor, que gosta de se diferenciar e, portanto, com personalidade própria. Trata-se ainda de um cliente que aposta no design independente nacional, com preocupações ambientais e sociais, que sabe que ser sustentável é, primeiramente, apostar no comércio local e justo, sabendo quem fez o quê. Não se tratando de um cliente que apenas consome, é um cliente que faz compras com consciência.

Atrás de uma grande mulher está sempre…quem?

Um marido que apoia seja qual for a decisão e uma comunidade de profissionais que se apoia e interajuda. É fabuloso poder seguir a caminhada com pessoas que nos acrescentam tanto, seja com a sua capacidade de criação, como os designers que representamos, seja com uma palavra de entusiasmo e ânimo nos dias menos positivos, ou ainda como equipa de trabalho que faz deste Creative Hub um todo orgânico e familiar.

O que te faria mais feliz ou realizada profissionalmente?

A minha realização profissional passaria sem dúvida pela possibilidade de mostrar e representar o design nacional sustentável ao mundo. Mostrar que não temos só a qualidade de produção mas também a criação de pessoas que são intemporais.

Uma vida na escola ou a escola da vida?

Uma vida na escola. Um dos meus maiores prazeres é estudar coisas novas, aprender assuntos distintos. Sou uma geek assumida. Adoro ler, assistir a webinars, pesquisar sobre algum assunto novo! A única coisa que me faz desistir desses prazeres é o prazer maior de ser mãe e passar tempo com o meu filho.

Covid 19, 20, 21… que dores ou triunfos foste somando ao longo deste período?

A ausência do contacto humano foi algo que me afectou imenso, sinto muita falta dessa conexão. Em termos económicos foi também um ano difícil. No entanto a quantidade de mensagens, emails recebidos por clientes, designers fez-me ter a certeza que o caminho é o certo e que de alguma forma fazemos falta na vida das pessoas. Isso é para mim o melhor feedback que poderia ter tido.

Que diferenças esperas encontrar no mundo da venda a retalho na era pós-covid?

A loja online será sem dúvida uma ferramenta essencial para o novo normal que se avizinha. Teremos um cliente mais preparado, que fará pesquisa no conforto do seu lar e virá à procura de coisas mais específicas focado na qualidade e intemporalidade do que compra. A sustentabilidade não só em termos ecológicos mas também económicos passará a estar presente e por isso irá comprar mais localmente com a certeza de onde foi produzido. Na Cru estaremos preparados porque sempre foi o nosso mote.

Tens algum motto ou mantra que recordas em períodos mais desafiantes?

“A dor de hoje será a lição de amanhã”; assim tudo o que nos acontece poderia sempre ser pior, por isso, há que dar o melhor e continuar.

 

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Virginia França

Foster Hodge | Inglês Nu e Cru

By | CRU Spotlight

794 é o número de podcasts que o Foster tem, disponíveis no Spotify, gravados em lotes de 7/semana, e que chegam aos ouvidos de mais de 10 milhões de brasileiros.

O que começou de forma natural e tímida é, 5 anos depois, um negócio rentável, bem estruturado, e que traz valor, sob a forma de cursos de inglês práticos e acessíveis, a mais de 10 mil alunos.

Foster nasceu no estado da Carolina do Sul nos EUA.  Se formou na University of the South com diploma de honra em Relações Internacionais e Espanhol. Ele também tem um MBA internacional da Darla Moore School of Business onde ele se formou com distinção.

Depois dos estudos ele trabalhou com educação internacional, em ONGs e como professor, levando ele para várias partes do mundo como Espanha, Nova Iorque, Guatemala, e Brasil.

Hoje em dia, ele mora no Porto com sua parceira Alexia e o cachorro deles, Buddy.

Esta equipa (Buddy incluído!) está estabelecida no cowork da CRU desde 2019.

O que é que te levou a criar a Inglês Nu e Cru?

Na verdade, no início, começamos com o nosso outro podcast, Carioca Connection. Eu estava no Rio de Janeiro depois de fazer um MBA Internacional. Durante o meu mestrado percebi que gostei mais da parte “internacional” do que o “MBA” mesmo. Eu sabia que não queria um emprego normal, ou melhor, uma vida normal. Mas, eu escutava muitos podcasts, sabia como produzir áudios, e queria melhorar o meu português.

Aí a Alexia entra na história…

Poucas semanas depois de conhecê-la, perguntei se ela queria criar um podcast comigo, e ela (ainda não sei por quê) topou.

Começamos com o mesmo formato de um outro podcast que me ensinou a falar espanhol, Notes in Spanish.  A ideia era simples. Um americano aprendendo português de uma forma natural e divertida, através da conversação com a Alexia.

Tivemos um pouco de sucesso, mas poucas pessoas escutavam o Carioca Connection no começo. As pessoas gostaram muito do conteúdo mas, a audiência era pequena e não foi um negócio rentável. Durante a minha estadia no Rio, todo mundo queria aprender inglês. E daí pensamos, será que estamos fazendo isso ao contrário? Seguimos com o mesmo formato, só que desta vez eu estava ensinando a Alexia, e nasceu o Inglês Nu E Cru. Quase 5 anos depois, o Inglês Nu E Cru é um dos podcasts educacionais mais populares do Brasil e o Carioca Connection continua a ensinar milhares de pessoas mais sobre a língua e cultura do Brasil.

Concentração vs procrastinação… qual é a tua receita para a produtividade?

Para ser bem sincero, não tenho receita. Já fiz tudo – trabalhando muito, trabalhando menos, todos os ‘produtivity hacks’ imagináveis e ainda é um trabalho em progresso.

Quem são os teus super-heróis na área do e-learning e podcasting? que super-poderes têm eles?

Ben Curtis e Marina Diaz do Notes In Spanish. Eles me inspiraram a criar nosso primeiro podcast e continuam a me inspirar. Eles têm uma mistura de autenticidade, simplicidade, e diversão que é difícil achar na área.

Craig Mod é meu escritor favorito do momento e é um exemplo que pode ter o nicho mais pequeno do mundo e ainda tem um negócio viável.

Que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar o teu áudio aos ouvidos dos teus clientes?

Sobretudo, podcasts. Gravamos muito (quase 7 episódios por semana), então temos muito conteúdo em um canal que ainda é relativamente pequeno e emergente. Nosso marketing sempre tem sido boca a boca. Pessoas gostam do que fazemos e contam para os outros.

Quem mais faz parte do projecto Inglês Nu e Cru? Como dividem as vossas tarefas e responsabilidades?

Somos três. Eu, Alexia, e Felipe. Nos três primeiros anos, foram só eu e a Alexia. Naquela época, fizemos um pouco de tudo. Hoje em dia, eu e a Alexia fazemos a criação e produção dos podcasts. Eu faço a maioria da criação para os nossos cursos. Alexia é responsável pelas mídias sociais e o suporte dos nossos clientes. Felipe faz a edição e mantém o nosso site.

Recorda um dos teus momentos de maior orgulho profissional

Quando o Inglês Nu E Cru foi reconhecido como um dos dez podcasts melhores podcasts do ano com uma mulher como apresentadora.

Como vês o crescimento e a escala do teu projecto nos próximos anos?

Eu sei que podcasts vão continuar a crescer. Também a educação online vai continuar a evoluir. Vejo as nossas escolas como uma combinação desses dois mundos. Não sei qual papel vamos ter nessa história mas, eu fico feliz que vamos participar.

Que tecnologia não dispensas?

Usamos um site chamado Podia para os nossos cursos. ConvertKit para nosso email marketing. Um Zoom H4N para gravar podcasts. Com tecnologia, quanto mais simples, melhor.

Quem é o Foster quando não está a trabalhar?

Quando não estou a trabalhar, normalmente pode me encontrar a brincar com o nosso cachorro, Buddy, tocando música, ou caminhando na natureza. Fico mais feliz quando posso fazer os três ao mesmo tempo.

Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar na tua área?

Você já tem algo para ensinar. Quando começamos Inglês Nu E Cru, não me considerei “professor de inglês.” Agora, quase dez milhões de brasileiros têm escutado os nossos áudios. Você já sabe mais sobre uma coisa do que a maioria das pessoas – compartilhe sua paixão, ajude pessoas, e o sucesso vai te encontrar. Ah, e você deve entender o conceito de “1,000 true fans” e começar um podcast hoje.

 

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Foster

Ana Novais | Petiscos & Miminhos

By | CRU Spotlight

Petiscos é o Nome Do Meio de Ana Novais, que estaria longe de imaginar que este se tornaria uma alcunha pessoal, quando, há mais de uma década, criou a marca Petiscos e Miminhos.

Para nós, é a Pesticos, ou Pestisquini, amiga e companheira, em quem reconhecemos um espírito de empreendedora, coragem, curiosidade e a frontalidade que tanto apreciamos.

Não sabemos ao certo quando e como conhecemos a Ana Novais, mas a sua relação com a CRU data mesmo do seu primeiro dia, tendo sido a responsável pelo catering de inauguração, em Fevereiro de 2012. Desde então, até 2016, foi nossa parceira de eventos, nos quais apresentava os seus petiscos, passando, ainda, por ser uma das residentes do nosso cowork.

A formação em Cenografia foi, decerto, um ingrediente precioso para o cuidado e a estética com que sempre apresentou os seus petiscos em caterings que preparava para centenas de pessoas diariamente, quer em celebrações privadas ou conferências públicas.

Ainda assim, teve tempo para se dedicar a uma pós graduação em Gestão Hoteleira na ESEIG em 2013, viveu em Milão enquanto aprendia os segredos da pastelaria e, finalmente, completou uma especialização em Digital Marketing na EDIT, em 2019.

A fotografia esteve constantemente presente no seu percurso, tornando-se cada vez mais marcante nas suas redes sociais. Assim, natural e gradualmente, foi sendo convidada como Food Stylist para diversas publicações de receitas culinárias, o que a levou para Munique, e a estabelecer-se como freelancer na produção de conteúdos digitais nesta mesma área, para várias empresas nacionais e internacionais.

A Ana gosta de cães, chãos bonitos, cafetarias e continua apaixonada pela cidade Invicta, mesmo que viva actualmente na capital.

A sua belíssima conta de instagram confirmará as nossas afirmações!

E se crescer água na boca, algumas das receitas lá publicadas podem ser consultadas aqui.

Como vieste a tornar-te Food Stylist e criadora de conteúdos?

Aconteceu tudo assim um bocadinho por acaso. Tenho formação em cozinha e em design de cenografia, sou apaixonada pelas duas áreas e esta foi a forma de unir as duas. Comecei com um blogue em tom de brincadeira, o que levou a propostas profissionais e quase sem perceber estava a trabalhar como food stylist e criadora de conteúdos a tempo inteiro!

Concentração vs procrastinação… qual é a tua receita para a produtividade?

Provavelmente uma não existe sem a outra. Acredito que ninguém consegue estar concentrado numa só tarefa horas fio. No meu caso, quando percebo que o nível de produtividade/concentração está baixar prefiro parar e mudar para outra atividade, e voltar à primeira com um olhar fresco e descansado. O meu lema é Work Smart.

Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal.

Chá…tenho sempre um bule de chá ao meu lado (neste momento estou numa fase de chá de menta).

Que livros mais te influenciaram na tua vida profissional?

No meu caso sou mais influenciada por imagens do que por palavras, apesar de ler sobre gastronomia, food culture, food design e afins, a minha maior influência é audiovisual: fotografia e vídeo. Apesar de trabalhar com comida pesquiso imagens em diferentes áreas como moda, arquitetura, artes plásticas, entre outras.

Quais são os teus canais de comunicação de eleição que usas para fazer conhecer o teu trabalho?

Neste momento o principal é o Instagram, é a forma mais imediata e acessível para chegar a pessoas e criar uma pequena comunidade. No entanto, exige imenso trabalho e dedicação, é preciso criar uma presença constante, criar conteúdos apelativos e interagir com outras comunidades. Também tenho um portfólio online em estilo website, para quem queira conhecer o meu trabalho fora do conteúdo publicado nas redes sociais.

Que princípios te regem quando atribuis um preço ao teu trabalho ou negoceias com um cliente?

Encontrar um valor justo para mim e para o cliente é um dos maiores desafios, acho que todos os freelancers vivem nesta agonia. O melhor método para mim é ser transparente com o cliente, explicar as horas de trabalho que determinado projecto exige e os recursos necessários. Desta forma torna-se mais fácil negociar e chegar a um acordo que seja proveitoso para ambas as partes.

Conta-nos qual foi a tua primeira crise enquanto empreendedora.

Já passei por algumas crises, faz parte do processo. Não consigo precisar qual foi a primeira, sendo que já lá vão algumas…mas há um ditado tradicional que encaixa que nem uma luva naqueles momentos menos bons: “não há mal que sempre dure, nem bem que não acabe”, o melhor é respirar fundo perceber o que está a correr mal e tentar encontrar uma solução.

O que está, para ti, a seguir à próxima curva?

Nestes tempos exóticos que vivemos estou mesmo a tentar viver um dia de cada vez, o que parece mais fácil do que realmente é! Gostava de desenvolver um projecto na área do Food Design, ultimamente tenho pesquisado bastante nesta área.

Que apps / software fazem de ti uma super-mulher?

A app que mais uso (profissionalmente mas pessoalmente) é o google maps, para mim uma das melhores invenções de sempre, sendo que dantes passava a vida a perder-me e por consequência a chegar atrasada a trabalhos. Uso imenso o Pinterest para pesquisa de imagens, inspiração e construção de moodboards. Por último o vsco para quando é necessário editar fotografias rapidamente

Quais foram as maiores lições que aprendeste, nestes anos enquanto empreendedora e freelancer?

A mais importante mas também a menos sexy é a aprender a gerir o dinheiro, algo que não era muito intuitivo para mim. Outra lição importante é aprender a valorizar o meu  tempo, o tempo é o bem mais precioso que temos e no passado não valorizava o tempo necessário para realizar um projecto e o impacto que isso teria no meu tempo livre.

O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Ana Novais

Pedro Maçana | Wayz

By | CRU Spotlight

Wayz for Life é a forma de estar na vida que Pedro Maçana escolheu após uma consolidada carreira dentro e fora de solo nacional.

Inicialmente, licenciado em Gestão pela FEP e com 42 anos, o criador desta marca de sapatilhas identificou a oportunidade de fazer a diferença assente em princípios de sustentabilidade ecológica, ambiental e social, através de um design intemporal, de materiais ecológicos de qualidade, e de produção local.

Foi precisamente no curso de Design de Calçado da Lisbon School of Design, no qual ingressou em 2018, que Pedro conheceu o seu actual sócio (e designer das sapatilhas) Daniel Gonçalves. Seguindo o próprio mote “Walk your Way”, criaram juntos a Wayz, uma marca de sneakers sustentável e socialmente responsável, totalmente produzida no Porto.

A Wayz, lançada em Dezembro de 2019 após uma campanha de crowdfunding na Indiegogo, praticamente não conheceu o mundo (ou o mercado) em época não pandémica. Não obstante, o caminho continua a ser pisado com passos determinados em direcção ao resto da Europa e, no prelo, está o lançamento de um produto feito com 100% de materiais reciclados e vegan.

Desde Março de 2020 que a Wayz faz parte da criteriosa selecção de marcas sustentáveis da CRU. Sobre o Pedro, sublinhamos o seu profissionalismo, coragem e o seu positivismo contagiante.

As sapatilhas mais fixes do país podem ser encontradas na loja física e online da marca, bem como na loja física e online da CRU, naturalmente.

O que é que te levou a criar a Wayz?

A criação da Wayz nasce de uma viagem pessoal, que me trouxe de volta ao Porto, depois de 18 anos a trabalhar numa multinacional de retalho em Espanha, Portugal e França. Uma mudança de vida que criou a oportunidade de lançar este projeto, aliada a uma paixão por sapatos e à vontade de criar uma marca de sneakers 100% portuguesa e responsável: Sneakers with a Humanistic Footprint.

Revela-nos o que costumas ter em cima da tua secretária de trabalho, num dia perfeitamente normal

Sou um pouco nómada nos meus hábitos de trabalho. Tenho várias mesas e locais de trabalho. Com a pandemia este hábito acentuou-se. Quando tenho uma secretária, normalmente há pouca coisa: o computador, claro, o meu caderno de notas, um copo de água ou um cantil. Quanto menos coisas melhor.

Diz-nos o teu top5 de marcas sustentáveis. Que mais é que elas têm em comum?

No mundo dos sapatos há duas marcas que me inspiram, a Veja, marca de sneakers francesa e a Red Wing Shoes, uma marca de “botas de trabalho” americana. Na Veja aprecio a forma sustentada e orgânica como dois jovens criaram um marca de sapatilhas, com valores, responsabilidade, sustentabilidade, criando uma rede de parceiros e redistribuindo valor pelos vários intervenientes. E o produto, claro, sobretudo o design intemporal.

Na Red Wing, adoro a qualidade e intemporalidade do produto (design com décadas) e o facto de podermos reparar as botas, mudar as solas, e dar-lhes nova vida. A verdadeira sustentabilidade está no design (intemporal) e qualidade/durabilidade do produto.

Pelas mesmas razões, gosto da La Paz e da Isto, marcas portuguesas de roupa. Saindo do mundo da moda, gosto muito da marca de bicicletas dobráveis Brompton, um produto incrível, pensado e concebido para as movimentações na cidade, com uma estética/ funcionalidade inconfundíveis.

Que formas encontras de activar a tua marca e de fazer chegar os Wayz aos pés dos teus clientes?

Usamos muito redes sociais, Instagram sobretudo, mas também o Facebook e o Linkedin. Neste último caso, mais para falar sobre a evolução da Wayz enquanto marca e das diversas iniciativas em que participamos. Além disso, estamos presentes em eventos (Moda Lisboa, GreenFest, Planetiers, etc) ligados à sustentabilidade/consumo consciente e, sempre que possível, também nos media (imprensa, tv, etc).

Copyrights, royaties, desenhos, patentes, marcas… navegas normalmente nestas águas?

Tudo isso é de uma grande complexidade… assim que chegámos ao nome Wayz e ao logotipo, decidimos registar a marca a nível europeu. Ainda não tínhamos nenhum modelo desenhado ou produzido, mas sabíamos que era importante proteger-nos. Apesar disso, não nos livramos de umas ameaças e de uns valentes sustos, que só foram resolvidos recorrendo a um gabinete de protecção de marcas e patentes. É um assunto muito delicado que não deve ser esquecido quando se está a lançar um projecto/marca

Que muletas tecnológicas usas para dominar ou simplificar o teu dia-a-dia?

Sou muito básico com a tecnologia. Para mim tem que ser fácil de usar e criar valor imediato. Sendo assim limito-me a usar o Shopify, para gerir e dinamizar a nossa loja online. As redes sociais, já referidas, para comunicar com a nossa comunidade, e o chat, para comunicar com os nossos clientes. O Daniel, que fundou comigo a Wayz e é o designer dos nossos produtos, não prescinde do Adobe Illustrator e do Photoshop, e de software de desenho para criar e ilustrar os nossos Wayz!

Como é para ti ser empreendedor no Porto / em Portugal?

Ou se faz com paixão, resiliência e alguma dose de loucura, ou então não vale a pena. Costumo dizer que a viagem é dura, mas vale a pena.

E penso que isto é universal. Acho que não é diferente por estarmos no Porto, ou em Portugal.  A nossa localização geográfica traz-nos vantagens, temos as fábricas ao virar da esquina e um bom know-how na indústria em geral. Mas também temos inconvenientes, o acesso ao consumidor é mais difícil dada a pequena dimensão e fraco poder de compra do nosso mercado interno.

Noutros países será diferente, temos que saber viver com esta realidade, adaptar-nos para fazer bem e sempre melhor

O que está, para a Wayz, a seguir à próxima curva?

A Wayz tem que crescer enquanto marca, ganhar notoriedade a nível nacional e internacional. Queremos entrar em vários marketplaces digitais, em diversos países europeus. Queremos também entrar no mercado B2B, de retalho.

A nível de produto, o próximo passo será o lançamento de um produto feito com 100% de materiais reciclados e vegan.

Wayz for life… quem faz este percurso, passo a passo, contigo?

A Wayz foi criada por mim e pelo Daniel Gonçalves e tem sido sobretudo uma viagem a dois, na qual fomos conhecendo e convidando parceiros para trabalhar, pontualmente ou de forma regular, connosco e fazer crescer o projeto. Desde logo os nossos parceiros no desenvolvimento do produto, fábricas, fornecedores de materiais, etc, mas também marketplaces e lojas, como a CRU, que nos ajudam a chegar aos clientes e divulgar a marca, ou outras comunidades, como a UPTEC, que foi fundamental no lançamento do projeto.

Nada se faz sozinho, acredito profundamente na colaboração e na interdependência. Costuma-se dizer, sozinhos vamos mais rápido mas juntos vamos mais longe!

Que diferenças encontras no universo do consumo sustentável na era pós-covid?

A pandemia quebrou o nosso crescimento enquanto marca. Quase não sabemos o que é ter uma marca em tempos normais porque a Wayz nasceu em final de 2019!

Na forma de trabalhar, adaptámo-nos, como todos. Adiámos alguns projetos e privilegiámos outros. Em relação aos nossos produtos, nada mudou. Aquilo em que acreditávamos antes, ainda faz mais sentido durante e no pós pandemia: um produto de grande qualidade, feito de forma ética e responsável, localmente, com um design intemporal, versátil, sem género e sazonalidade, vendido a um preço justo. São atributos relevantes que vão conquistar clientes portugueses e internacionais interessados em criar um mundo melhor, em que produzimos, consumimos e gerimos empresas de forma responsável e agregadora.

CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: Cortesia Pedro Maçana / Wayz

Helena Antónia | Vintage for a Cause

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50% Buda e 50% Beyoncé… a maior força da Helena é, possivelmente, conhecer-se ao ponto de saber bem as suas competências mas também os seus limites, equilibrando a sua aspiração por acção e impacto positivo, com a natural necessidade de recolhimento e contemplação.

Conhecemos a Helena Antónia há já vários anos, desde que a sua marca, a Vintage for a Cause, passou a fazer parte da selecção de marcas sustentáveis da nossa loja, em xxx.

Sempre com uma energia positiva contagiante, a Helena conquistou-nos, não só pelo conceito da VFC muito alinhado com a nossa linha de actuação, mas também pela sua personalidade: sensível e sonhadora, pragmática e determinada.

Advogada por formação, a Helena mudou de rumo e advoga desde 2012 pelo upcycling e pela inclusão social através da Vintage for a Cause. Uma marca que é também uma causa, com a missão da redução do desperdício têxtil em paralelo com a capacitação e promoção do envelhecimento activo de mulheres acima dos 50 anos. 

As peças da VFC, habitualmente desenhadas por designers externos (como a Katty Xiomara, por exemplo) seguem um modelo slow fashion. A aposta no design intemporal contraria a lógica das colecções e a marca adopta um ciclo próprio, mais sustentável, baseada nos recursos, na procura, e na produção de pequenas quantidades e de peças exclusivas. Conceito que tem valido diversos apoios e prémios (CMP, EDP, Gulbenkian, Yves Rocher…)

As peças da Vintage For a Cause podem ser encontradas no seu site e nas lojas física e online da CRU, pois claro!

O que é que te levou a criar a Vintage For a Cause?

A VFC foi um acaso. Nasce como ideia em 2012 , porque fui fazer uma pós-graduação em Empreendedorismo e Inovação Social, sem grandes objetivos. A minha intenção era só divergir da minha atividade profissional da altura, advogada e técnica de sinistros numa seguradora.
Tive de apresentar uma ideia de negócio que respondesse a um ou mais problemas sociais ou ambientais. E penso que foi a minha experiência pessoal que condicionou a ideia que surgiu na altura: criar clubes de costura para tirar mulheres isoladas de casa onde elas transformariam roupa e materiais descartados em roupa urbana cool (peças que eu queria encontrar a preços competitivos) em co-criação com designers , de forma a ocuparem o seu tempo de forma criativa e estimulante, terem rendimento extra e voltar à vida ativa num registo mais adequado à sua fase de vida.

Tenho de admitir que na altura não olhei para a VFC como o meu possível emprego ou uma fonte de rendimento e que durante alguns anos não tive consciência clara da melhor classificação para a iniciativa. Era simplesmente algo novo que me permitia aplicar e desenvolver competências e estar em constante aprendizagem e em contacto com pessoas de setores diferentes.

És senhora ou escrava do teu tempo?

Imponho-me ser mais senhora do meu tempo, do que escrava dele. Mas é uma conquista on going e uma gestão desafiante. Fui conquistando isso por etapas, definindo rotinas de trabalho e de cuidados pessoais, intenções diárias, e aprendendo a dizer não com menos hesitação.
Tenho vindo a aprender com outras pessoas, sobretudo de culturas diferentes, o quão importante é “trabalhar bem” ou “work smart” em vez de trabalhar muitas horas ou “work hard”. Isso, aliado a uma maior honestidade em relação aos meus limites, foi fazendo toda a diferença nessa gestão.

Que livros mais te influenciaram na tua vida profissional?

Consumo desde sempre imensa literatura na área do desenvolvimento humano ( gosto particularmente de autores como Joe Dispenza ou Gregg Braden ou até Simon Sinek).
Por necessidade constante de aprofundar diferentes temas, leio bastante sobre moda sustentável e economia circular de variadíssimos autores e até investigadores. (E existem tantos autores incríveis. Eu gosto da Sandy Black e da Sass Brown, mas existem milhentos.)
Porém, diria que o livro do Daniel Christian Wahl “Design de culturas regenerativas” foi possivelmente o mais impactante, porque me fez compreender melhor o que seria na realidade a mais valia de iniciativas como a Vintage for a Cause dum ponto de vista sistémico.

Quem são os clientes da Vintage For a Cause e o que é que os faz escolher os teus produtos?

A Vintage for a Cause tem diferentes tipos de clientes, dadas as valências de intervenção (social, ambiental e económica). Ainda assim diria que o método é sempre o mesmo: criar redes e parcerias alinhadas que vamos trabalhando o mais possível e acabam por trazer maior força de comunicação.
Associamo-nos a mais marcas, projetos, em contextos segmentados.
Quer no mercado interno, quer no mercado externo, recorremos sempre presenças em plataformas ligadas a economia circular, inovação social e moda sustentável e comunicamos bastante sobre impacto.
No que respeita ao produto, quem escolhe a marca são clientes que compram duma forma mais informada e que gostam de se diferenciar nas tendências e na norma. Apreciam a forma como o produto foi feito, mas em primeiro lugar um design mais improvável a um preço competitivo.
A marca pretende também democratizar o acesso à moda sustentável.
Temos recentemente abordado a comunicação também sob o ponto de vista de PR e assessoria de imprensa com uma parceria com a C.Greener.

Atrás de uma grande mulher está sempre…quem?

Uma mega cama elástica composta por imensas pessoas, que compõem a equipa core, os voluntários, os múltiplos profissionais que representam os nossos clientes ou parceiros e uma quantidade de pessoas que me vai tocando de formas que nem têm consciência e que, independente da natureza da relação que possamos ter, são verdadeiros supporters.
E claro, a minha família, amigos e pessoas próximas que me apoiaram sempre incondicionalmente.

Que ‘camisolas’ vestes com entusiasmo?

Entusiasmam-me “camisolas” que funcionem para a mudança e para o bem comum. De forma realista, palpável, em equidade, e abrindo espaço para que mais pessoas possam juntar-se e desenvolver-se em conjunto.
Por isso, estou ligada a mais organizações como a Fashion Revolution Portugal, Circular Economy Club ou à Between Parallels e a grupos mais informais que gostem de fazer coisas giras e saudáveis.

Conta-nos qual foi a tua primeira crise enquanto empreendedora.

Nunca me levei nem levo muito a sério como empreendedora. E tenho crises amiúde, porque sinto que estou a trabalhar numa área que tem de ter KPI’s diferentes, mas para os executar tenho de usar os mesmos de qualquer negócio e dum sistema mais capitalista e competitivo onde é difícil encaixar.
E é um jogo complexo, que tem tanto de desafiante como de estimulante, dada a gestão multi-stakeholders que obriga.
E, por outro lado, conheço-me, e sei que o meu perfil serve parte das necessidades do jogo, mas não todas. Tenho consciência ainda que, em função da evolução da marca, poderá fazer sentido eu mudar o meu papel na mesma e partilhar a liderança.
Esta experiência permite acima de tudo um desenvolvimento e aquisição de competências e redes de apoio que me capacitam para fazer qualquer outra coisa e sinto-me muito confortável com a ideia de que a minha evolução profissional pode passar por abraçar outros projetos com que me identifique e a que o meu perfil possa servir.

Como vês o crescimento e a escala da Vintage For a Cause nos próximos anos?

O modelo de escala dum negócio com a cadeia de valor da VFC só pode ser equacionado numa lógica de replicação de framework que aproveite e redesenhe estruturas e a utilização de recursos já existentes, que possa ser liderado e implementado com alguma descentralização. Mais num formato de plataforma agregadora dos stakeholders. É a única forma de gerar mais impacto. De forma leve, quase numa lógica de certificação e facilitação de processos para uma modelos mais locais, inclusivos e responsáveis.

Quem é a Helena quando não está a trabalhar?

Nunca me levei nem levo muito a sério como empreendedora. E tenho crises amiúde, porque sinto que estou a trabalhar numa área que tem de ter KPI’s diferentes, mas para os executar tenho de usar os mesmos de qualquer negócio e dum sistema mais capitalista e competitivo onde é difícil encaixar.
E é um jogo complexo, que tem tanto de desafiante como de estimulante, dada a gestão multi-stakeholders que obriga.
E, por outro lado, conheço-me, e sei que o meu perfil serve parte das necessidades do jogo, mas não todas. Tenho consciência ainda que, em função da evolução da marca, poderá fazer sentido eu mudar o meu papel na mesma e partilhar a liderança.
Esta experiência permite acima de tudo um desenvolvimento e aquisição de competências e redes de apoio que me capacitam para fazer qualquer outra coisa e sinto-me muito confortável com a ideia de que a minha evolução profissional pode passar por abraçar outros projetos com que me identifique e a que o meu perfil possa servir.

Que dicas ou conselhos deixarias para alguém que está a começar na área do Empreendedorismo Social?

Fundamental: equipa, equipa e equipa. Testar e falhar bem e rápido, com pouco risco. Não ser perfecionista…
O resto diz respeito às soft skills (que deviam chamar-se strong skills), alguma sorte ou serendipidade.
E nesse campo, acho muito importante conhecermo-nos o mais possível, ter muita clareza em relação aos nossos termos pessoais de “sucesso” e estar super confortável com o falhar continuamente, porque isso vai ser a constante do processo que vai permitir aprendizagem e evolução do negócio, o que quer que isso venha a ser… Diria que 80% é compromisso e trabalho pessoal, boa equipa e boas relações e 20% ciência ou gestão.

O CRU Spotlight é um rubrica de pequenas entrevistas a pessoas da comunidade CRU, com foco em aspectos da sua vida profissional como independentes no sector das Indústrias Criativas.

Texto: Tânia Santos Edição: Rossana Fonseca Fotografias: cortesia da Helena Antónia Silva